terça-feira, 5 de março de 2024

Os Semitas : impérios e povos

 Cristiano De Mari

        Segundo a história bíblica, no livro de Gênesis, Sem foi um dos filhos de Noé, irmão de Cam e de Jafet. O texto bíblico informa que Noé, com a idade de quinhentos anos, gerou a Sem, Cam e Jafé.

Prosseguindo, o texto bíblico relata que Sem, com a idade de cem anos, gerou filhos, sendo o terceiro deles Arfaxad,  dois anos depois do dilúvio. Depois disso, ainda viveu mais quinhentos anos, sendo pai de muitos filhos e filhas, chegando aos seiscentos anos de vida. 

     Mais adiante tratarei de explicar a questão da grande longevidade desses patriarcas, se foi real mesmo ou se é algo ligado a um sentido figurado.

      Na época em que grandes reinos e impérios dominavam, como os egípcios, caldeus, babilônicos, persas, hititas e etc...e faziam do politeísmo ( crença em várias divindades) a sua direção espiritual, um clã surgido em Ur, uma família, a de Abraão continuava firme no propósito de crer em um único Deus. A fé monoteísta primordial desde criação do ser humano foi sendo esquecida e modificada para os politeísmos variados nos milênios seguintes ao grande cataclismo mundial chamado de " Dilúvio".

     Mas como aconteceu isso uma vez que Noé era temente a Deus e seus filhos também, como que a fé monoteísta foi sendo colocada de lado em detrimento aos politeísmos?  Passados muitos séculos e até milênios após o dilúvio muitos fatores influenciaram nisso como : erros teológicos que levaram a criação no imaginário humano de vários deuses, substituições do relato original por mitologias, a falta do Espírito Santo no homem, o endeusamento de personalidades importantes,  rituais de sacrifícios humanos e animais, pessoas que começaram a trabalhar espiritualmente com ocultismo, e o principal deles: a influência dos anjos caídos (demônios) e tantas outras práticas abomináveis a Deus.


       Foi por meio de Abraão, descendente de Arfaxad que vivia em Ur em meio aos Caldeus, que a semente geradora da verdadeira crença voltou a conquistar a alma humana.

      Um processo longo e penoso que duraria muitos séculos, mas que atingiria futuramente toda a humanidade culminando no evento da chegada de Jesus Cristo (também semita), sua vida e obras.Essa renovação da fé atinge todos os povos do mundo inclusive os chamados "gentios"  convertendo-os e tornando essa expressão máxima de fé conhecida mundialmente.

     O livro de Gênesis, em seu capítulo 10, versículo 30, diz que os descendentes de Sem teriam habitado uma vasta região no Oriente:


"E foi a sua habitação desde Messa, indo para Sefar, montanha do Oriente."


    Contudo, essas regiões mencionadas não são devidamente identificadas pela geografia atual, sendo que uma interpretação do texto bíblico induz que tal localização poderia referir-se às terras que foram ocupadas pelos filhos de um descendente de Sem - Joctã.

     Quanto aos filhos de Sem, o Gênesis , em seu capítulo 10, menciona cinco nomes: Elam, Assur, Arfaxad, Lud e Aram.

    Sem é tradicionalmente considerado o ancestral do povo semita; religiosos e árabes se consideram filhos de Sem através de Arfaxad. 

      De Sem também surgiram grandes impérios e nações antigas como: Assírios, Acádios, Caldeus , Elamitas, Persas, Hicsos, Hebreus, Edomitas, Arameus, Árabes, Libaneses, etc....


Elam , semitas no planalto da Pérsia 



       O patriarca Elam em (Gênesis 10:22, Esdras 4:9), foi o filho mais velho de Sem, e neto de Noé. Este nome também é utilizado no idioma semita acadiano para referir-se ao antigo país de Elam, pátria dos elamitas onde hoje é o atual sul do Irã.

       Os Elamitas eram chamados de  "Halmati", tinham um império e capital na cidade de Susa ou Susã, onde que é agora o Irã moderno. A língua Elamita, no entanto, é uma língua não-semítica que tem sido controversamente agrupada com as línguas modernas dravídicas, em "Elamo-Dravídicas".Um ramo tribal de Elam gerou os persas, juntamente com descendentes de Madai, filho de Jafet.

       O povo hebreu acreditava ser descendente também de Elam, filho de Sem por meio de uma neta dele chamada Rasuaia. Isto implica que os elamitas eram considerados semitas pelos hebreus, apesar de sua língua não ser semítica, mas considerada como uma língua isolada. Esta categorização moderna não conflita com a bíblia hebraica, uma vez que ela sustenta que a diversidade dos idiomas humanos teriam se originado no episódio da Torre de Babel.

        O Livro dos Jubileus comenta sobre uma antiga tradição onde menciona em algumas versões uma filha de Elam chamada "Susan", cuja filha "Rasuaia" casou-se com Arfaxad, progenitor de outra ramificação Semítica, a dos Hebreus. Susa foi a antiga capital do país de Elam. (Daniel 8:2). Arfaxad era irmão de Elam.

      De Elam vieram também os antigos persas com misturas raciais das tribos de Madai , filho de Jafet.Segundo uma tradição, Madai teve como esposa uma filha de Sem.Por isso dizemos que os persas eram meio semitas e meio caucasóides.

       Elam (a nação) também é mencionada em Gênesis 14, que descreve uma antiga guerra no tempo de Abraão, envolvendo um rei chamado Codorlaomor, em registros acádios chamava-se " Cudur-la-ga-mur" nessa língua.

As profecias de Isaías (11:11, 21:2, 22:6) e Jeremias (25:25) também mencionam Elam e a última parte de Jeremias 49 é uma profecia apocalíptica contra Elam, auto-datadas para o primeiro ano de Zedequias (597 a.C) e em Ezequiel 32:24, Elam é citada como uma cidade parceira do Egito.


Assur, o fundador da antiga Assíria 



       Os Assírios consideravam o pai-deus Assur, e fundaram uma cidade com esse nome no Rio Tigre.

    Assur ( em antigo sumério: 𒀭𒊹𒆠; em acádio: Rassam ; latinizado.: Aš-šurKI , lit. 'Cidade do deus Assur'; em siríaco: ܐܫܘܪ; em persa antigo: 𐎠𐎰𐎢𐎼; em persa: آشور; em hebraico: אַשּׁוּר; romaniz.: Aššûr) foi um antigo patriarca filho de Sem, teria fundado também uma cidade da Assíria, sua primeira capital, com o mesmo nome.Provavelmente foi contemporâneo de Nimrod, Cush, Madai , Tubal, e etc.... todos seus primos.

     Sem, primeiro filho de Noé deu origem a todos os povos de origem semita, a saber: hebreus e árabes, amoritas,  elamitas e persas, arameus e luditas, etc...Os assírios  descendem do patriarca Assur, este era filho de Sem, por sua vez neto de Noé.

Possuíam em sua maioria cabelos escuros crespos e grandes barbas escuras, sua pele não era negra mas morena oliva como a maioria dos semitas da região.

      A sua maior contribuição foi a civilização Assíria, formada após a queda do império dos Acádios, também semitas. Antes disso, esse povo vivia em suas tribos e aos poucos aprenderam a organizar-se social e politicamente.Foi depois que os semitas adquiriram a supremacia na Acádia que as colônias assírias foram fundadas. Assur, provavelmente, foi um patriarca-rei que foi deificado depois (como o deus Assur) e se tornou o deus da cidade de Assur, de onde deriva o nome Assíria.Assur construiu segundo a Bíblia, as cidades de Nínive, Reobot-Ir, Cale e Resen, todas muito próximas a Babel, Babilônia, o que denota uma convivência próxima com seu primo Nimrod. 

     Quanto aos Assírios, sua tecnologia militar foi destacada pelo uso do ferro, cobre e estanho para entalhar armas.Eram guerreiros habilidosos mas implacáveis. No auge do poder, controlaram o Chipre, o Egito, a Mesopotâmia e a região hoje ocupada pelo Estado de Israel.

       Evidências arqueológicas apontam que os assírios surgiram no fim do terceiro milênio III a.C.. Além da habilidade bélica, ficaram também conhecidos pela arquitetura integrada por edifícios imponentes destacados nas cidades de Assur, Nínive e Nimrud.

     Travavam relações comerciais com os hititas, que atualmente vivem na Turquia, já no século XIX a.C.. A atividade comercial é intensificada entre os séculos XIX e XVIII a.C., quando adotam o sistema babilônico nas transações. Nessa fase, atuam com os amoritas.

       A conquista da Babilônia viria em 729 a.C., sob o reinado de Tiglath-Pileser III, também chamado de Teglatefalasar III, que viveu entre 746 a.C. a 727 a.C.. Sob o comando desse rei, os assírios chegaram a porção média do oriente, onde foram conquistados o reino de Urartu, em Ararat.

      Foi no reinado de Sargão II, que os assírios conquistaram Israel. Sargão II viveu entre 721 a.C. e 705 a.C. e, entre as marcas de sua conquista esteve a deportação de 27 mil israelitas e a invasão da Síria, em 715 a.C..

      O sucessor de Sargão II, Senaquerib (705 a.C. até 681 a.C.) foi o responsável pela transferência da capital para Nínive. Antes  disso, a sede em Assur. Senaquerib ainda tentou conquistar Judá. Ele ordenou o cerco à cidade, fracassou e, quando retornou derrotado a Nínive, dois de seus filhos o assassinaram.

Em seu lugar passou a reinar o filho Esar-Hadom, chamado também de Assaradom e que viveu entre 681 a.C. até 669 a.C.. Assaradom expandiu o domínio assírio até o Nilo e se estabeleceu no Egito. Também reconstruiu a Babilônia que, durante certo período, foi a capital do império.

     De idioma semita, os assírios eram politeístas e acreditavam em deuses que simbolizavam o Sol e os planetas. Por conta da religião, demonstravam conhecimento na astronomia. Na base religiosa, o deus Sol era representado como um soberano déspota e com uma vida farta.

      Abaixo do deus Sol estavam os servos, representados como comerciantes.

A economia assíria era baseada no saque e nos tributos adquiridos na guerra. Os povos conquistados passavam a ser tratados como servos. Também atuavam de maneira rudimentar a agricultura e o comércio.

      A arte assíria era marcada pelo realismo, com baixos relevos e demonstrando a vocação bélica e da caça. As representações eram figuradas em baixo relevo na cerâmica, em tapetes e joias.

    Utilizavam a escrita cuneiforme inscrita em ladrilhos de argilas e, ainda, em murais.






Arfaxad, ancestral dos Acádios , Caldeus e Hebreus 


       Arfaxad foi um dos filhos de Sem, seus irmãos foram : Elam (Elamitas, Persas), Assur (Assírios), Lud ( semitas da Anatólia) e Aram (Arameus).

     Segundo o historiador judeu Flávio Josefo, ele habitou na Mesopotâmia e tornou-se o progenitor dos Caldeus. Provavelmente foi também ancestral dos Acádios, uma vez que estes moravam na mesma região.

      Os Caldeus tornaram-se conhecidos por erguerem o segundo império babilônico com a ajuda dos Medos, e foi da cidade de Ur dos Caldeus, segundo a Bíblia que Abraão começou a sua peregrinação em direção a Terra prometida.

      Ur era de fundação Suméria, porém havia uma grande quantidade de semitas habitando nas redondezas, todos descendentes de Sem, lembrando que os Sumérios eram descendentes de Cam e ocuparam e organizaram a região previamente.

      Os Caldeus foram conhecidos também como grandes astrônomos do passado e observadores das estrelas, dos ciclos lunares e órbitas planetárias, bem como de conhecimentos geográficos e naturais, explorando ao máximo a ciência natural da época, de acordo com a tecnologia que possuíam.



      A tendência é reconhecer na palavra o nome do país mais próximo do antigo domínio dos caldeus. Alguns consideram a palavra como uma forma egípcia do nome territorial de Ur Kasdim, ou Ur dos Caldeus.

      Arfaxad teve como esposa uma filha de Elam , Rasuaia. Pode parecer estranho mas os casamentos de aproximação consanguínea eram comuns naquela época uma vez que a humanidade estava se multiplicando, existiam uniões entre vários clãs. Aos trinta e cinco anos Arfaxad gerou Selá, e este por sua vez gerou Héber, que daria origem aos Hapirus habitantes do sul da Mesopotâmia, conhecidos por nós como Hebreus, o nome Héber portanto origina o termo " Hebreu" , da qual Abraão fez parte.

        Segundo o capítulo 10 de Gênesis, devido à sua longevidade, Arfaxad teria vivido pelo menos até a oitava geração de sua descendência, alcançando o patriarca Abraão. 

       Um forte indício é o fato da bíblia mostrar a possível cidade natal de Abraão, a cidade de Ur que é várias vezes mencionada na bíblia com Ur dos Caldeus. (Gênesis 11: 27-28).


Lud: A maioria das autoridades antigas atribuem este nome à Lídia, do leste da Anatólia (Luddu em inscrições Assírias de ca. 700 a.C.).Seriam portanto semitas que habitaram na Anatólia.

Aram: Há referências de uma campanha militar contra "Aram" em 2300 a.C. nas inscrições de Narã-Sim. Seus descendentes se estabeleceram na cidade de Harã. Havia um número de lugares chamado Aram, incluindo um lugar em Damasco e outro chamado Arã-Naharaim, ou Aram de dois rios, situado entre os rios Tigre e Eufrates. Há também Aram-Tzova, que é mencionado em Salmos 60.

    Uz, filho de Aram. Possivelmente, os antepassados dos Nabateus, que se estende do sul da Jordânia até o noroeste da Arábia Saudita.

     Hul , filho de Aram.; pode ter uma possível conexão com o lago conhecido como Hula .

     Geter, filho de Aram. Pai de Thamud na tradição árabe.

     Més, filho de Aram ; sugestões incluem povos de Mashu, uma região desconhecida dos cedros, mencionada na epopeia de Gilgamesh (possivelmente seria no Líbano), e E-Mash Mash, o principal templo de Nínive na Assíria.




     Quanto aos Haplogrupos Y paternos mais comuns entre os semitas são os do agrupamento J e as variações J1 e J2.




Referências: 


Wikisource. Tradução Brasileira da Bíblia/Gênesis/ VI,  IX e X.

Livro Antiguidades Judaicas, Flávio Josefo.

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