segunda-feira, 1 de abril de 2024

O patriarca Javan e a ancestralidade grega

 Cristiano De Mari


    Vestígios arqueológicos mostram que a Grécia teve uma longa pré-história, que data do Neolítico em 4.000 a.C. Compreende-se aqui ainda como um período de afirmação dos antigos patriarcas , de desenvolvimento dos clãs familiares tribais gregos, migrações, miscigenação , criação e assimilação de culturas. Com a entrada da Idade do Bronze (2.800 a.C),  desenvolveram-se culturas importantes. Estas conexões e migrações tribais tem muita relevância entre as regiões da Grécia e a Anatólia ( hoje Turquia) , corredores de passagem dos povos. Lembra-se aqui que é do Cáucaso , depois Anatólia, Mesopotâmia e Levante( Síria e Palestina) que os primeiros clãs tribais se espalharam pelo restante do planeta , a partir de 10.000 a.C , a data chave do " restart humano".

  No início, só existiam vilas que posteriormente virariam cidades, nada de colunas e templos requintados e nem mármore sobre eles.

     O mundo civilizatório do mar Egeu teve várias fases, sendo duas das mais importantes:  a civilização minoica (Cretense) e a civilização micênica (que veio dos Aqueus). Estas culturas desapareceram em 1.100 a.C, mas os Aqueus de língua grega continuaram e migraram para o Peloponeso entre os anos de 1.400 a 1.300 a.C. 


      Os Eólios e os Jônios ( outras duas tribos gregas) aparentemente precederam (vieram antes dos) os Dórios que migraram para a Grécia antes de 1000 a.C. Os Jônios, voltaram talvez como refugiados ou como conquistadores, estabeleceram-se nas ilhas Jônicas e nas costas da Ásia Menor, que se tornaram parte do mundo grego. 

       Após a invasão dórica que daria origem aos espartanos, os povos da Grécia, sob a influência da divisão geográfica e em relação à grande variedade de tribos, desenvolveram as cidades-estado, pequenos povoados que se transformaram em reinos menores.

       No decorrer do tempo, o nome Jônia veio a restringir-se à Ática (a região em torno de Atenas), à costa ocidental da Ásia Menor (correspondendo ao litoral das posteriores províncias da Lídia e da Cária) e às ilhas vizinhas do mar Egeu. O mar situado entre o S da Grécia e o S da Itália ainda retém o nome de “Jônio”, e reconhece-se que este nome é de origem antiqüíssima, o que apóia o conceito de que esta forma do nome do patriarca Javan certa vez se aplicava à parte continental da Grécia, bem como à posterior região menor chamada “Jônia”.

        A costa oeste da Anatólia foi povoada por colonos da civilização micênica ( 1.700-1.100 a.C) que em grande parte, permaneceram perto de vias navegáveis para o comércio. O interior fazia parte do império dos Hititas (1.400-1.200 a.C.) até o colapso da Idade do Bronze ( 1.250 a 1.150 a.C), embora seu alcance não se estendesse à área costeira que se tornaria a Jônia. O reino da Frígia surgiu na área após a queda dos Hititas, juntamente com a Cária, a Lídia e a Mésia, e esses três últimos controlavam a área desde a foz do rio Hermus, ao norte até o Maeander, ao sul, que viria a ser conhecida como Jônia.

     A região da Jônia é mais conhecida como o berço da filosofia grega (na cidade de Mileto) e o local da Revolta Jônica, que provocou a invasão persa da Grécia em 490 e 480 a.C.

     As doze cidades jônicas da região eram: Phocaea, Clazômenas, Cólofon, Teos, Lebedeu, Éfeso, Chios, Erétria, Samos, Priene, Myus e Mileto.



Origens étnicas e míticas dos Jônios 


      Vários nomes e nomenclaturas aparecem tanto na Bíblia como em registros escritos de outros povos antigos, todos atestam para uma forte concordância de relações dos nomes que se parecem muito com Javan, Jônia, Iáones, Íon. Não precisaria de mais provas, a história dos patriarcas bíblicos iniciais e suas famílias tribais são verídicas e encontram respaldo histórico.


      De acordo com Heródoto, os Jônios receberam seu nome  de Íon on, o lendário rei de Atenas.

     Íon é o mesmo que Javan no velho testamento (em hebraico: Ya·wán) e é identificado como o progenitor dos antigos jônios, que alguns chamam de “tribo originadora dos gregos”.  

      O nome I·á·o·nes ( Iáones) foi usado pelo poeta Homero, em torno do oitavo século a.C como referindo-se aos primitivos gregos, e a partir de Sargão II (oitavo século a.C), o nome " Jawanu"  começa a surgir em inscrições Assírias.

      Depois do relato de Gênesis, os descendentes de Javan começam a ser mencionados por volta da parte final do nono século a.C, pelo profeta Joel. O profeta condena ali os Tírios, os Sidônios e os Filisteus por venderem os filhos de Judá e de Jerusalém no seu comércio de escravos com os “filhos dos gregos” (literalmente: “os jônios”). 

       Isaías em 3:4-6 , no oitavo século a.C, prediz que alguns dos judeus que sobrevivessem à expressão da ira de Deus viajariam para muitas terras, inclusive para “Javan”, proclamando ali a glória de Javeh. — Is 66:19.

    Em fins do sétimo século e início do sexto século a.C, alistam-se escravos e colocam-se artigos de cobre como itens supridos por “Javan, Tubal e Mosoc, estes últimos lugares estando evidentemente situados na parte Leste da Ásia Menor, ou ao Norte dela, ” ao rico centro comercial de Tiro. 

     Na profecia de Daniel, “Javan ” é geralmente traduzido pelos tradutores como “Grécia”, uma vez que o cumprimento histórico dos escritos de Daniel torna evidente este significado (Da 8:21; 10:20; 11:2).

      Isto se dá, igualmente, com a profecia de Zacarias (520-518 AEC), que prediz a guerra bem-sucedida dos ‘filhos de Sião’ contra Javan (Grécia). Za 9:13.



     Outra questão ao contrário dos "Eólios" e dos "Dórios", os "Jônios" aparecem nas línguas de diferentes civilizações ao redor do Mediterrâneo oriental e no extremo leste da China Han. Eles não são os primeiros gregos a aparecer nos registros; essa distinção pertence aos Dânaos (dóricos) e aos Aqueus. A trilha dos jônicos começa nos registros gregos micênicos de Creta.

     Uma tabuinha fragmentada de escrita Linear B de Cnossos em Creta (tabuinha Xd 146) leva o nome I-ja-wo-ne, interpretado por Ventris e Chadwick como possivelmente o caso dativo ou nominativo plural de *Iāwones, um nome étnico. As tabuinhas de Cnossos são datadas de 1400 ou 1200 a.C. e são portanto  anteriores ao domínio dórico em Creta, se o nome se referir aos cretenses.

     O nome aparece pela primeira vez na literatura grega em Homero como Ἰάονες, Iāones, usado em uma única ocasião de alguns gregos de mantos longos atacados por Heitor e aparentemente identificados com os atenienses, e esta forma homérica parece ser idêntica à forma micênica, mas sem o *-w-. Este nome também aparece em um fragmento de outro poeta antigo, Hesíodo, no singular Ἰάων, iāōn.

     No livro de Gênesis de qualquer Bíblia cristã  , Javan é filho de Jafé. Os estudiosos da Bíblia acreditam quase universalmente que Javan representa os jônicos; isto é, Javan é o mítico Íon , lendário patriarca mítico e fundador de Atenas  . O hebraico é Yāwān, plural Yəwānīm.

       Além disso, mas com menos certeza, Jafet pode estar relacionado linguisticamente à figura mitológica grega de Jápeto.

      As localizações dos países tribais bíblicos têm sido objeto de séculos de estudos e ainda permanecem, em vários graus, questões em aberto. O Livro de Isaías dá o que pode ser uma dica ao listar “as nações... que não ouviram a minha fama”, incluindo Javan e imediatamente depois “as ilhas distantes”. Essas ilhas podem ser consideradas uma oposição a Javan ou ao último item da série. No primeiro caso, a expressão é normalmente usada para a população das ilhas do Mar Egeu.

      Algumas cartas do Império Neo-Assírio no século 8 a.C registram ataques do que parecem ser jônicos às cidades da Fenícia.


Por exemplo:


     Um ataque de saqueadores jônios (Ia-u-na-a-a) na costa fenícia é relatado a Tiglath-Pileser III em uma carta da década de 730 a.C. descoberta em Nimrud.

      A palavra assíria, que é precedida pelo determinante do país, foi reconstruída como *Iaunaia. Mais comum é ia-a-ma-nu, ia-ma-nu e ia-am-na-a-a com o país determinante, reconstruído como Iamānu. Sargão II relatou que ele tirou estes últimos do mar como peixes e que eles eram do "mar do sol poente".

      Mar do sol poente , logicamente estava se referindo que estavam a oeste da Fenícia , e realmente a Grécia, suas ilhas , Chipre e Creta estão a oeste.

 Se a identificação dos nomes assírios estiver correta, pelo menos alguns dos saqueadores jônicos vieram de Chipre.

     Os registros reais de Sargão em 709, alega que um tributo que foi enviado a ele veio de  " sete reis de Ya (ya-a')"  um distrito de Yadnana cujas moradas distantes estão situadas a sete dias de viagem no mar do sol poente, isso tudo é confirmado por uma estela instalada em Citium, em Chipre, "na base de uma ravina montanhosa sobre Yadnana.

       Os jônios aparecem também em uma série de inscrições persas antigas do Império Aquemênida como Yaunā (𐎹𐎢𐎴𐎠), um nominativo plural masculino, singular Yauna;  por exemplo, uma inscrição de Dario na parede sul do palácio em Persépolis inclui nas províncias do império "Jônios que são do continente e (aqueles) que estão à beira-mar, e países que estão do outro lado do mar;." Naquela época, o império provavelmente se estendia ao redor do Egeu até norte da Grécia.

       Inspirados pelos iranianos aquemênidas, os jônicos aparecem na literatura e nos documentos índicos como Yavana e Yona. Nos documentos, esses nomes referem-se aos Reinos Indo-Gregos: os estados formados pelo macedônio Alexandre, o Grande e seus sucessores no subcontinente indiano. A documentação mais antiga desse tipo são os Editos de Ashoka. O décimo terceiro edito é datado de 260–258 a.C  e refere-se diretamente aos "Yonas".


Em outras línguas


      A maioria das línguas modernas da Ásia Ocidental usa os termos "Jônia" e "Jônico" para se referir à Grécia e aos gregos. Isso é verdade para o hebraico (Yavan 'Grécia' / Yevani fem. Yevania 'um grego'), armênio (Hunastan 'Grécia'  / Huyn 'um grego' [carece de fontes]) e as palavras do árabe clássico (al-Yūnān 'Grécia' / Yūnānī fem. Yūnāniyya pl. Yūnān 'um grego', provavelmente do aramaico Yawnānā,  são usados na maioria dos dialetos árabes modernos, incluindo egípcio e palestino como além de ser usado no persa moderno (Yūnānestān 'Grécia' / Yūnānī pl. Yūnānīhā/Yūnānīyān 'Gregos') e também no turco via persa (Yunanistão 'Grécia' / Yunan 'uma pessoa grega' pl. Yunanlar 'povo grego'.



      O nome Jawanu aparece a partir do século VIII a.C. em inscrições assírias se referindo aos primitivos gregos e, no mesmo período, para se referir ao mesmo povo, o poeta Homero usa o nome IÁONES / JÔNIOS. Na mitologia grega que explicaremos abaixo, Javan é identificado com o personagem Íon. O mar situado entre a Grécia e a Itália ainda retém o nome de “Jônio”.

      Assim conforme a Bíblia , a mitologia da história dos Helenos (gregos) conta sua origem e descendência a partir de Deucalião e Pirra , que é o casal grego sobrevivente do dilúvio correspondente ao Noé Bíblico e sua esposa, na versão grega da história.


Eles teriam gerado o patriarca Helen/Heleno que teve como filhos:


1-   Dorus (Dórios) e seus filhos: Tectamus e Aegimius;

2-   Xuthus e seus filhos: Achaeus (Aqueus) e Íon ( Jônios);

3-   Éolo ( Eólios) e seus filhos: Makednos e Magnes.


      Nesse caso Íon (Javan) aparece como filho de Xuthus, irmão de Achaeus e sobrinho de Dorus e Éolo. Na versão bíblica ele é o progenitor de todos os povos gregos. Numa ordem um pouco diferente, paternidade e filiação estão com nomes trocados, o que não coloca em dúvida o fato, apenas mostra uma diferença do entendimento hebraico do assunto e do entendimento grego do mesmo; a diferença da linguagem hebraica (semita) da grega (jafética /indo-europeia). As narrativas diferentes referem-se também à quantidade de anos passados entre uma geração e outra ; fenômeno causado pelo distanciamento que, consequentemente provoca algumas alterações nas mesmas, mas conserva-se uma essência. 


Referências:

https://www.greecewebtravel.com/ancient-greece.html?fbclid=IwAR2Zq4OceUC7kRyD3s2bdHX0K9U5hkX-MCfo30geUd1bLJ14G2SfLgSbyxs

https://languagelog.ldc.upenn.edu/nll/?p=44747

https://en.m.wikisource.org/wiki/1911_Encyclop%C3%A6dia_Britannica/Ionians