Cristiano De Mari
O mito da Atlântida, o povo de Atlas e de sua destruição, permaneceu na memória dos povos do Mediterrâneo como um cataclisma natural. No diálogo de Timeu e Crítias , o filósofo Platão procurou reconstruir essa “lenda” pegando reminiscências dos povos que viviam no litoral do Mediterrâneo e também dos egípcios. Esse relato-lenda nada mais é que um acontecimento verídico de um tempo imemorial , de uma catástrofe global ocasionada pelas forças da natureza no fim do Período Paleolítico e início do Neolítico entre 10000 a 12000 a.C, gerando terremotos, chuvas torrenciais, inundações, tsunamis, atividades vulcânicas fazendo perecer grandes multidões no mundo todo. Está relacionado também ao fim dos períodos das glaciações e a choques de asteroides.
Todo esse processo ocasionou o afundamento
de grandes áreas de terra, bem como ilhas e continentes, Atlântida , Lemúria e Mu
são algumas dessas áreas desaparecidas.
Na história bíblica conhecemos todo esse
processo embutido nos relatos de Nóe e sua família que constroem uma arca para
se salvar das águas do Dilúvio. Além deles , ninguém se salvou , pois a
humanidade havia pecado em todos os sentidos, havia se degenerado atraindo a
punição até eles.
Sim, Dilúvio , cataclismos , fim da Atlântida
podem estar totalmente relacionados, se não na mesma época , mas muito
próximos.
No começo do relato sobre Atlântida no livro
Timeu, um sacerdote egípcio contou ao ateniense Sólon durante sua estadia no país
em Sais detalhes dessa história magnífica:
“ Sólon,
Sólon, vós gregos sois sempre crianças. Um grego nunca é velho. Vós sois todos
jovens no que a vossa alma respeita. Porque não guardais nela nenhuma opinião
antiga precedente de uma velha tradição, também não tendes nenhuma ciência encanecida
pelo tempo. E esta é a razão disso: os homens foram destruídos e o serão ainda
de muitas maneiras........”
“Naquele tempo, era possível atravessar o
Atlântico. Havia uma ilha diante do que vós chamais de Colunas de Hércules
(hoje estreito de Gibraltar), maior em tamanho que o Egito e a Ásia juntos (Nessa
época a Ásia não era conhecida totalmente, apenas era considerado Ásia a parte
do Oriente Médio).E os viajantes daqueles tempos podiam passar desta ilha às
demais ilhas, e destas últimas podiam ganhar todo o continente, na costa oposta
deste mar que merecia realmente seu nome (Atlântico vem de Atlântida).Pois em
um dos lados, dentro deste estreito que falamos, parece que não havia mais que
um porto de boca muito fechada e que, do outro lado, para fora, existe este
verdadeiro mar e a terra que o rodeia, a qual se pode chamar realmente um
continente ( América) , no próprio sentido da palavra. Ora , pois nesta ilha Atlântida
uns reis haviam formado um império grande e maravilhoso. Este império era
senhor de toda a ilha e também de muitas outras ilhas e de partes do
continente.Além disso, na parte vizinha a nós, possuíam a África e a Europa até
a Etrúria.”
“ Porém no tempo subsequente, houve
terríveis tremores de terra e cataclismos. Durante um dia e uma noite horríveis,
todo o exército de Atenas foi tragado pela terra e desse modo a ilha Atlântida
submergiu no mar e desapareceu. Eis porque , todavia hoje, este mar (Oceano Atlântico
erroneamente) é difícil e inexplorável devido às suas profundidades baixas e
lodosas que a ilha ao fundir-se deixou.”
É muito comum relato de navegadores
antigos comentando sobre a dificuldade em navegar nessa região do Atlântico
Norte na altura do que chamamos de Sargaços, uma parte do oceano que ficou por
muito tempo lodosa dificultando a navegação.
O império atlante , segundo Platão era um
arquipélago. Por coincidência podemos observar que no texto de Ezequiel capítulos
26 , 27 e 28 também se fala do arquipélago de Társis, associado biblicamente à Atlântida:
“ Agora estremecerão as ilhas ao dia de
tua queda, sim, as ilhas que estão no mar se espantarão com teu êxito.”
“Todos os moradores das ilhas se
maravilharão sobre ti e seus reis tremerão de espanto .”
“Eu pois tirei fogo do meio de ti, o qual
te consumiu,...Farei subir sobre ti o abismo e as muitas águas te cobrirão.”
Muitas das lendas antigas sobre catástrofes
estão associadas ao mistério de Atlântida.Depois dessa catástrofe subsistiram
milhares de ilhas menores e uma delas teria sido Társis hoje desaparecida.
As histórias do dilúvio sobre cataclismos,
afundamento de terras aparecem nas mitologias dos povos antigos em todas as
partes do globo. Se esta história tanto do Dilúvio como Atlântida, Mu e Lemúria
aparecem em várias mitologia é porque
não foi somente um fenômeno aplicado ao inconsciente coletivo mundial, não meus
amigos, também deixou traumas e uma Terra bem molhada. Vejamos algumas tiradas
da página “ Os grandes mistérios /dilúvio universal” , sendo que existem mais
de 100 espalhadas pelo mundo todo:
1)
Dilúvio Judaico-cristão
Segundo a Bíblia, Noé, seguindo as
instruções divinas, constrói uma arca para a preservação da vida na Terra, na
qual abriga um casal de cada espécie animal, bem como a ele e sua família,
enquanto Deus, exercendo julgamento sobre os antediluvianos (povo de ações
perversas), inundava toda a Terra com uma chuva que duraria quarenta dias e
quarenta noites. Após alguns meses, quando as águas começaram a baixar, Noé
enviou uma pomba, que lhe trouxe uma folha de oliveira. A partir daí, os
descendentes de Noé teriam repovoado a Terra, dando origem a todos os povos
conhecidos.
Na esfera cultural hebraica primitiva, o
evento do Dilúvio contribuiu para o estabelecimento de uma identidade étnica
entre os diferentes povos semíticos (todos descendentes de Sem, filho de Noé),
bem como sua distinção dos outros povos ao seu redor (cananeus, descendentes de
Canaã, neto de Noé, núbios ou cuxitas, descendentes de Cush, outro neto de Noé,
etc.). No Antigo Testamento, Noé amaldiçoa Canaã e abençoa Sem, o que serviria
mais tarde como uma das justificativas para a invasão e conquista da terra dos
cananeus pelas Tribos de Israel
Após o período diluviano, procura-se até
os dias de hoje os restos da Arca, que segundo alguns historiadores realmente
encontra-se no Monte Ararat. Mas não existe como precisar a localização, já que
a região é bem acidentada, e vasta.
2)
Dilúvio Sumério
O mito sumério de Gilgamesh conta os
feitos do rei da cidade de Uruk, Gilgamesh, que parte em uma jornada de
aventuras em busca da imortalidade, nesta busca encontra as duas únicas pessoas
imortais: Utanapistim e sua esposa, estes contam à Gilgamesh como conquistaram
tal sorte, esta é a história do dilúvio. O casal recebeu o dom da imortalidade
ao sobreviver ao dilúvio que consumiu a raça humana. Na tradição suméria, o
homem foi dizimado por incomodar aos deuses. Segundo este mito, o deus Ea, por
meio de um sonho, apareceu a Utnapitshim e lhe revelou as pretensões dos deuses
de exterminar os humanos através de um dilúvio. Ea pede a Utnapitshim que
renuncie aos bens materiais e conserve o coração puro. Utnapitshim, então,
reúne sua família e constrói a embarcação que lhe foi ordenada por Ea, estes
ficam por sete dias debaixo do dilúvio que consome com os humanos. Aqui um trecho
de tal história:
"Eu percebi que havia grande
silêncio, não havia um só ser humano vivo além de nós, no barco. Ao barro, ao
lodo haviam retornado. A água se estendia plana como um telhado, então eu da
janela chorei, pois as águas haviam encoberto o mundo todo. Em vão procurei por
terra, somente consegui descobrir uma montanha, o Monte Nisir, onde encalhamos
e ali ficamos por sete dias, retidos. Resolvi soltar uma pomba, que voou para
longe, não encontrando local para pouso retornou (…) Então soltei um corvo,
este voou para longe encontrou alimento e não retornou." (TAMEN, Pedro.
Gilgamesh, Rei de Uruk. São Paulo: ed. Ars Poetica, 1992.)
3)
Dilúvio Hindu
Nas escrituras védicas da Índia
encontramos um rei chamado Svayambhuva Manu, que foi avisado sobre o dilúvio
por uma encarnação de Vishnu (Matsya Avatar). Matsya arrastou o barco de Manu e
lhe salvou da destruição.
Este aviso veio através de um peixe, que foi
poupada da morte, que advertiu que se avizinhava um dilúvio de grandes
proporções que destruiria a raça humana. Manu construiu uma nave e arrastou-a
até o ponto mais alto, e foi assim que ele salvou-se da grande tragédia. Dessa
forma ele, fez um sacrifício aos deuses, usando azeite e nata azeda, sobre as
águas, de onde da mesma emergiu uma mulher conhecida pelo nome de Filha
de Manu, com o qual se uniu e deu início à nova geração da raça humana.
4)
Dilúvio Grego
A mitologia grega relata a história de um
grande dilúvio produzido por Poseidon, que por ordem de Zeus havia decidido pôr
fim à existência humana, uma vez que estes haviam aceitado o fogo roubado por
Prometeu do Monte Olimpo. Deucalião e sua esposa Pirra foram
os únicos sobreviventes. Prometeu disse a seu filho Deucalião que construísse
uma arca e nela introduzisse uma casal de cada animal, de forma análoga à Arca
de Noé. Assim estes sobreviveram.
Ao terminar o dilúvio, a arca de Deucalião
pousou sobre o Monte Parnaso, onde estava o Oráculo de Temis. Deucalião e Pirra
entraram no templo, para que o oráculo lhes dissesse o que deviam fazer para
voltar a povoar a Terra, e a deusa somente lhes disse:"Voltem aos ossos de
suas mães" Deucalião e sua mulher adivinharam que o oráculo se referia às
rochas.Destas formas, as pedras tocadas por Deucalião se converteram em homens,
e as tocadas por Pirra em ninfas ou deusas menores, por que ainda não se havia
criado a mulher.
5)
Dilúvio Mapuche
Nas tradições do povo Mapuche do
centro-sul do Chile igualmente existe uma lenda sobre uma inundação do lugar
deste povo (ou do planeta). A lenda se refere à história das serpentes,
chamadas Tentem Vilu e Caicai Vilu.
6)
Dilúvio Pascuense
A tradição do povo da Ilha de Páscoa diz
que seus ancestrais chegaram à ilha escapando da inundação de um mítico
continente, ou ilha, chamado Hiva.
7)
Dilúvio Maia
A mitologia do povo maia relata a
existência de um dilúvio enviado pelo deus Huracán.
Segundo o Popol Vuh, livro que reúne
relatos históricos e mitológicos do grupo étnico maia-quiché, os deuses, após
terminarem a criação do mundo, da natureza e dos seres vivos, decidiram criar
seres capazes de lhes exaltar e servir. São criados então os primeiros seres
humanos, moldados em barro. Porém, esses seres de barro não eram resistentes ao
clima e à chuva e logo se desfizeram em lama.
Então, os deuses criaram o segundo tipo de
seres humanos, à partir de madeira. Essa segunda humanidade, ao contrário da
primeira, prosperou e rapidamente se multiplicou em muitos povos e cidades
(tudo indica que é nessa época da segunda humanidade que se passam as aventuras
dos gêmeos heróis Hunahpú e Ixbalanqué contra os senhores de Xibalba). Mas
esses seres feitos de madeira não agradaram aos deuses. Eles eram secos, não
temiam aos deuses e não tinham sangue. Se tornaram arrogantes e não praticavam
sacrifícios aos seus criadores. Então, os deuses decidem exterminar essa
segunda humanidade através de um dilúvio. Ao contrário da maioria dos outros
relatos conhecidos sobre dilúvios, nenhum indivíduo foi poupado.
Após a catástrofe, a matéria prima
utilizada para moldar os novos seres humanos foi o milho. Foram criados quatro
casais, que são considerados os oito primeiros índios quiché. Eles deram origem
às três famílias fundadoras da Guatemala, pois um dos casais não deixou
descendência.
8)
Dilúvio Asteca
No manuscrito asteca denominado como
Código borgia, há a história do mundo dividido em idades, das quais a última
terminou com um grande dilúvio produzido pela deusa Chalchitlicue.
9)
Dilúvio Inca
Na mitologia dos incas, Viracocha destruiu
os gigantes com uma grande inundação, e duas pessoas repovoaram a Terra (Manco
Capac e Mama Ocllo mais dois irmãos que sobreviveram. A religião é um forte elo
de ligação entre as várias culturas andinas, sejam elas pré-incaicas ou incas.
A imposição do Deus Sol é um forte elemento da crença e dominação através do
mental, ou seja daquilo que permanece impregnado por gerações nas concepções e
mentalidades destas culturas, adorando o Deus imposto e entendendo ser ele o
mais importante. Pedro Sarmiento de Gamboa, cronista espanhol do século XVI,
relata como os Incas narravam sua criação e as lendas que eram passadas através
da oralidade de geração em geração, desde o surgimento de Viracocha e seus
ensinamentos, procurando definir um homem que o venerasse e fosse pregador de seus
conhecimentos. Em algumas tentativas de criar este homem, Viracocha acaba
punindo-o com um grande dilúvio pela não obediência como comenta Gamboa(2001),:
“Mas
como entre ellos naciesen vicios de soberbia y codicia, traspasaron el precepto
del Viracocha Pachayachachi ,que cayendo por esta trasgresión en la indignación
suya, los confundió y maldijo. Y luego fueron unos convertidos en piedras y
otros en formas, a otros trago la tierra y otros el mar,y sobre todo les envió
un diluvio general, al cual llaman uñu pachacuti , que quiere decir “agua que
trastornó la tierra”. Y dicen que llovió sesenta días y sesenta noches, y que
se anegó todo lo creado, y que solo quedaron algunas señales de los que se
convierteron en piedras para memoria del hecho y para ejemplo a los venideros
en los edificios de pucara que es sesenta leguas del Cuzco. (p. 40)”
A
narração do dilúvio está presente entre muitos povos e culturas por todo o
mundo. O início de tudo, ou seja, a criação, é um fator muito importante para
estabelecer relações e explicações sobre o que não se conhece e o que não foi
vivido. Assim, os mitos e lendas buscam criar uma ancestralidade, um ponto em
comum que defina a origem e o começo do cosmos e tudo existente nele, ou seja,
o conhecer de si mesmo, do próprio homem inserido na natureza, buscando sua
sobrevivência e continuidade de sua existência e a harmonia com os elementos
naturais e sobrenaturais.
10) Dilúvio Uro
O povo uro (ou uru), que habita próximo ao
Lago Titicaca, crê numa lenda que diz que depois do dilúvio universal, foi
neste lago onde se viram os primeiros raios do Sol.
11)
Dilúvio Chinês
Porém onde nos encontramos com uma figura
sugestivamente paralela à de nosso bíblico Noé, é na China, onde a água sempre
esteve em estreita relação com o nascimento da terra e o gênero humano. Foi o
grande herói YÜ, o domador das águas, quem conseguiu que estas se retirassem
para ornar, logrando assim que as terras ficassem aptas para o cultivo,
contribuindo ao engrandecimento da população. Dos distintos relatos do dilúvio
temos o de Fah-le, ocasionado pelo crescimento dos rios ao redor de 2.300 a.C.
Mas a tradição mais extensa é a que tem a Nu-wah como protagonista, que se
salvou junto com sua mulher, seus três filhos e as esposas destes em uma nave
construída para eles e para dar capacidade e salvamento a um par de cada
espécie animal que habitava a terra. Tão arraigada está a lenda de Nu-wah que
hoje em dia é escrita a palavra "nave" em chinês, representada por
uma barca com oito bocas dentro, aludindo aos oito navegantes que foram salvos
da catástrofe. Também o Gênesis diz que Noé foi salvo juntamente com outras
sete pessoas.
Referências:
A Reconstrução da Atlântida, ALVAREZ LOPEZ J. Editora Hemus, São Paulo ,
2004.
Timeu e Crítias ou A Atlântida, PLATÃO. Editora Hemus, São Paulo, 1981.
https://sites.google.com/site/osgrandesmisterios/o-diluvio-universal
https://sites.google.com/site/osgrandesmisterios/o-diluvio-universal