Cristiano
De Mari
Introdução
A afinidade entre diversos troncos de línguas
europeias já é de constatação geral. Estudantes de idiomas , literários,
historiadores, turismólogos e linguistas em geral, conseguem
perceber as ligações similares nas terminologias das palavras de alguns destes idiomas.
Vamos começar exemplificando: no grupo de línguas românicas , que se originaram a partir do latim vulgar falado na época do grandioso Império Romano muitas de suas palavras possuem valor fonético e estrutural parecido ou mesmo idênticas entre elas. Temos como idiomas variantes modernos originados do latim o português, o espanhol, o italiano , o francês e o romeno, línguas oficiais de seus países. Desses países que mencionei, em seus territórios encontram-se ainda diversos dialetos (vêneto, piemontês, napolitano, catalão, aragonês, sículo, galego, extremenho, normando, auvernês, provençal, etc..., alguns ainda sobrevivendo por causa dos regionalismos.
Algo semelhante acontece no grupo germânico de línguas europeias derivadas dos povos bárbaros germânicos que habitavam a Europa Central e do Norte, do Rio Danúbio às Ilhas Britânicas até a Escandinávia. São elas : o alemão , o inglês , o dinamarquês, gótico, escocês, sueco e norueguês, por exemplo.
Temos também o grupo eslavo, as línguas originadas das tribos eslavas da Eurásia e que habitavam regiões setentrional e oriental da Europa ; ou seja; o russo, o polonês, o ucraniano , o tcheco, o eslovaco, o búlgaro, o croata , o sérvio e o esloveno por exemplo.
Todos estes idiomas modernos se originaram de outros falares mais antigos, das línguas indo-europeias, (subentende-se aqui não só o linguajar mas também os povos que compunham a ideia de indo-europeus , na sua totalidade caucasianos de raça branca) e estas por sua vez originando-se do primitivo falar Protoindo-europeu. Afim de esclarecimentos, termos utilizados pelos linguistas aparecerão no artigo, como por exemplo o prefixo Proto (significando primeiro), Urvolk (em alemão, significando povo primitivo) e Urheimat (pátria primitiva ou local de origem).
Vamos começar exemplificando: no grupo de línguas românicas , que se originaram a partir do latim vulgar falado na época do grandioso Império Romano muitas de suas palavras possuem valor fonético e estrutural parecido ou mesmo idênticas entre elas. Temos como idiomas variantes modernos originados do latim o português, o espanhol, o italiano , o francês e o romeno, línguas oficiais de seus países. Desses países que mencionei, em seus territórios encontram-se ainda diversos dialetos (vêneto, piemontês, napolitano, catalão, aragonês, sículo, galego, extremenho, normando, auvernês, provençal, etc..., alguns ainda sobrevivendo por causa dos regionalismos.
Algo semelhante acontece no grupo germânico de línguas europeias derivadas dos povos bárbaros germânicos que habitavam a Europa Central e do Norte, do Rio Danúbio às Ilhas Britânicas até a Escandinávia. São elas : o alemão , o inglês , o dinamarquês, gótico, escocês, sueco e norueguês, por exemplo.
Temos também o grupo eslavo, as línguas originadas das tribos eslavas da Eurásia e que habitavam regiões setentrional e oriental da Europa ; ou seja; o russo, o polonês, o ucraniano , o tcheco, o eslovaco, o búlgaro, o croata , o sérvio e o esloveno por exemplo.
Todos estes idiomas modernos se originaram de outros falares mais antigos, das línguas indo-europeias, (subentende-se aqui não só o linguajar mas também os povos que compunham a ideia de indo-europeus , na sua totalidade caucasianos de raça branca) e estas por sua vez originando-se do primitivo falar Protoindo-europeu. Afim de esclarecimentos, termos utilizados pelos linguistas aparecerão no artigo, como por exemplo o prefixo Proto (significando primeiro), Urvolk (em alemão, significando povo primitivo) e Urheimat (pátria primitiva ou local de origem).
2- Estudo Comparativo e Paleontologia
Linguística
Muitos linguistas acabaram indo
mais fundo na questão por meio do estudo comparativo já existente de idiomas e
buscaram também informações pelo método denominado “ paleontologia
linguística”. Ela permitiu recolher dados como: cultura material, instituições
sociais e as diferentes concepções religiosas dos indo-europeus.
O método parte do seguinte princípio:
palavra conhecida à realidade conhecida, sendo assim considera-se o fato
(palavra, idioma) aliado ao seu contexto; sem conhecer a realidade local, a
realidade temporal e sociocultural provavelmente muito menos se descobriria
acerca das origens dos vocábulos.
Uma vez, ao se comparar as línguas
europeias, descobre-se que elas se formaram apartir de variações ao longo do
tempo, ocasionadas pela dispersão dos povos que foram migrando para cada vez
mais longe de sua pátria primitiva , diversificando-se os falares mas também mantendo alguns
termos parecidos entre si. Ao constatarem isso , os linguistas descobriram que
a existência de uma língua comum entre todas elas, levantava a questão da
existência de uma população primitiva (Urvolk) que falava essa
língua.E essa população, entretanto também pressupõe a ideia de uma região de
origem comum(Urheimat).
2.1- O Protoindo-europeu
O estudo comparativo das línguas
indo-europeias e os esforços dentro da paleontologia linguística permitiram
descobrir a existência de uma unidade linguística pré-histórica anterior à
todas as divisões linguísticas europeias ocasionadas desde suas remotas origens
e épocas migratórias. Os linguistas denominaram este primitivo falar, este
primitivo idioma de Protoindo-europeu.
2.2 Subdivisões linguísticas do
Indo-Europeu
A
família linguística indo-europeia originada do Protoindo-Europeu divide-se em
dez grupos principais :
1.
Línguas anatólicas: primeiro grupo descoberto e atestado. Termos isolados em
fontes escritas em assírio antigo do século XIX a.C. e em textos
hititas do século XVI a.C.; extintas ainda na Antiguidade .
2. Línguas
helênicas: breves registros no grego falado em Micenas no fim do
século XV a.C. até o início do seguinte; as
tradições homéricas (grego homérico) datam do século VIII a.C.
3.Línguas
indo-iranianas: descendentes de um ancestral comum,
o protoindo-iraniano (que data do fim do terceiro milênio a.C.):
*Línguas
indo-arianas, evidenciadas a partir do fim do século XV a.C. em textos
dos povos mitanni que mostram traços do indo-ariano.
Presume-se que o Rig Veda tenha preservado registros intactos
da tradição oral (Patha) que datam de meados do II milênio a.C.,
na forma do sânscrito védico.
*Línguas
iranianas, atestadas desde aproximadamente 1000 a.C. na forma do avéstico.
Epigraficamente, desde 520 a.C., na forma do persa antigo (inscrição
de Behistun).
*Línguas
dárdicas
*Línguas
nuristânicas
4. Línguas
itálicas: incluindo os dialetos itálicos desde o I milênio a.C., como o sabino,
osco ,volsco, úmbrio, équo, falisco, samnita dentre outros e
o latim e seus descendentes (línguas românicas ou latinas),
atestadas desde o século VII a.C.
5.Línguas
celtas, descendentes
do protocelta. Inscrições gaulesas chegam a remontar ao
século VI a.C.; a tradição de manuscritos do irlandês
antigo data do século VIII d.C.
6.Línguas
germânicas (do protogermânico) : testemunhos mais antigos encontrados
em inscrições rúnicas de por volta do século II d.C., e os primeiros
textos, feitos no gótico, do século IV. A tradição de manuscritos
do inglês antigo data do século VIII.
7. Língua
armênia: escritos no alfabeto armênio existem desde o início
do século V.
8. Línguas
tocarianas: existem em dois dialetos, evidenciados desde o século VI ao IX;
foram marginalizados pelo Império Uigur, onde se falava o turcomano
antigo, e provavelmente se extinguiram no século X.
9. Línguas
balto-eslavas: divididas em:
*Línguas
derivadas do proto-eslavo, evidenciado desde o século IX, primeiros textos
no antigo eslavônico eclesiástico.
*Línguas
bálticas, atestadas desde o século XIV; para idiomas cujas primeiras evidências
são tão tardias, conservam características arcaicas atípicas, atribuídas ao
protoindo-europeu .
10.Albanês,
evidenciado a partir do século XV; o proto-albanês provavelmente surgiu de
antecessores "paleobalcânicos".
3- A Pátria primitiva (Urheimat)
Várias hipóteses foram levantadas nestes
dois últimos séculos afim de localizar a região original que sediava a
população primitiva protoindo-europeia. Devido vários argumentos, uma hipótese
asiática foi descartada. Por meio da aplicação da Paleontologia Linguística, os
estudos convergem cada vez mais para a afirmação de que a localização seria da
região setentrional do Mar Negro, no sul da Rússia, onde hoje se encontra o
país da Ucrânia até áreas próximas ao Cáucaso. Esse teria sido o primeiro foco
de cultura indo-europeia.
Enciclopédias e revistas recentes são unânimes em indicar essa região, chamada também de região da “Cultura Kurgan”, como o habitat original dos indo-europeus no início do IV milênio a.C. As razões que levaram a esse acordo se devem a questão de que a região já era estudada há mais de dois séculos e a cultura Kurgan (Kurgan em russo = túmulo) encontrada lá, sepultava seus mortos em outeiros funerários, os quais constituem grande parte dos achados nesses sítios arqueológicos. Foi possível identificar apartir destas descobertas uma sociedade neolítica de agricultores. Essa primeira civilização de Kurgan desapareceu no II milênio dando lugar a uma outra dedicada à criação e animais. Essa sociedade era mais hierarquizada que a primeira, onde a quantidade dos rebanhos definiria o status social. Essa sociedade já utilizava o cobre, carroças, instrumentos agrícolas e também já haviam domesticado o cavalo. Alguns túmulos dessa época, revelam o sacrifício de cavalos sepultados ao lado de seus donos. Existia o cotidiano pastoril local(sedentário) mas também o nomadismo equestre; o aparecimento do cavaleiro de caráter guerreiro.
3.1- A Fauna selvagem de Kurgan
Enciclopédias e revistas recentes são unânimes em indicar essa região, chamada também de região da “Cultura Kurgan”, como o habitat original dos indo-europeus no início do IV milênio a.C. As razões que levaram a esse acordo se devem a questão de que a região já era estudada há mais de dois séculos e a cultura Kurgan (Kurgan em russo = túmulo) encontrada lá, sepultava seus mortos em outeiros funerários, os quais constituem grande parte dos achados nesses sítios arqueológicos. Foi possível identificar apartir destas descobertas uma sociedade neolítica de agricultores. Essa primeira civilização de Kurgan desapareceu no II milênio dando lugar a uma outra dedicada à criação e animais. Essa sociedade era mais hierarquizada que a primeira, onde a quantidade dos rebanhos definiria o status social. Essa sociedade já utilizava o cobre, carroças, instrumentos agrícolas e também já haviam domesticado o cavalo. Alguns túmulos dessa época, revelam o sacrifício de cavalos sepultados ao lado de seus donos. Existia o cotidiano pastoril local(sedentário) mas também o nomadismo equestre; o aparecimento do cavaleiro de caráter guerreiro.
3.1- A Fauna selvagem de Kurgan
Um dos principais argumentos para
identificar a pátria primitiva indo-europeia é a comparação das palavras
utilizadas na flora e nos nomes de animais domésticos encontrados nas regiões
dos sítios arqueológicos primitivos dos indo-europeus.
J.P. Mallory foi um estudioso que se
especializou nessa questão, procurou comparar dados linguísticos à fauna
indo-europeia com restos linguísticos da cultura Kurgan. Quando as palavras de
nomes de animais ou da flora ocorrem nos mais diversos ramos do
indo-europeu é porque estes mesmos animais e variedades de plantas viviam neste
clima temperado nas proximidades da pátria primitiva. E quando estas palavras
que designam o mesmo objeto, ideias ou coisas são muito parecidas entre
si é porque as línguas filhas do indo-europeu tiveram a mesma origem e
eram de linguajar comum, foram criadas provavelmente no vocabulário
Protoindo-europeu. O local de origem , a área de abrangência menor, e a
população formada por poucos indivíduos favorecia essa peculiaridade
linguística única, que só se tornou maior após o início das migrações para o
Irã, Índia, Anatólia, centro e sul da Europa.
3.2- Alguns exemplos de termos
*Canídeos: Tomamos como exemplo o Lobo ,
no Protoindo-europeu se escrevia aproximadamente como “wlkwosi”.O lobo era encontrado
em toda a Eurásia, apresenta similaridades em diferentes línguas.
No latim – lupus; no grego- lúkos ; no
gótico – wulfs; no antigo alemão – wolf ; no inglês – wolf; em islandês –
vlikus; em sânscrito – v´rkas; em albanês ulk; em hitita- ultippan ;
etc...
*Raposa: no Protoindo-europeu-
wlp-loupék; em latim – vulpes; armênio – alues; inglês- red fox; em
alemão – Rotfuchs; em grego – alópeks, etc...
* Cavalo: no Protoindo-europeu – ekwos; no
latim – equus; no grego – hippos ; gaulês – epo ; luvita- asuwa; trácio- ezbo;
no inglês- horse; no sânscrito – ásvan, etc....
Aqui utilizamos exemplos de animais, e
embora o assunto esteja bastante mergulhado no campo da pesquisa ainda , o
mesmo pode ser encontrado em palavras que remetem à flora, objetos domésticos
comuns, instrumentos de trabalho, construções, formas de tratamento familiar
como pai, mãe, irmão e ainda partes do corpo humano. Alguns exemplos : termos
utilizados para homem ( wiros) , mulher (gwena), filha (dhugater), genro
(gémeros), népots (neto), sobrinho (swesrinos), viúva (widewa), partes do corpo
humano , cabeça (kaput), garganta (gutr), pulmão( pleumón), olho (ókw) , nariz
(nás), joelho (gónu), corpo (k´rp), unha (óngh), lágrima (dakru), inverno
(gheimóm), primavera (esr), noite (nekut), gado bovino (gwous), boi (bós),
touro ( taurus), vaca (waca), bezerro/terneiro (wetelos), ovelha (owis), bode
(kapros), peixe (gzhu) no grego ikkthus, cereal (greno), maçã (abel) ,
neve (sneigwh),etc.....
Abaixo os termos mãe , pai e irmão em
Protoindo-europeu e suas variantes no indo-europeu:
*Máthér: em latin – mater; irlandês-
máthir; sânscrito- mátá; velho alemão-muoter; albanês- motre ; armênio-mayr,
etc.....
*Patér: em latim- pater; gótico- fadar;
sânscrito- pitar; islandês-fadhir; velho alemão-fater, em osco – patir,etc...
*Bhráter: em latim-frater; em
sânscrito- bhrátar; armênio -elbram; bretão-breur; velho eslavo-bratu, velho
alemão-bruader,etc....
4- Migrações
A cultura pré-histórica de Kurgan foi
dividida em quatro fases ou em 3 períodos, cujos marcos cronológicos coincidem
com as transformações culturais na Ásia Menor.
*Período Antigo: (fase I) entre 3600 a
2800 a.C.;
*Período Médio (fases II e III) entre 2800
a 2200 a.C. e
*Período Recente (fase IV) de 2200 até os
princípios do II milênio a.C.
As migrações da cultura Kurgan de sua
pátria original da região do Cáucaso para as regiões do Irã, Anatólia e mesmo
para a Europa Central, teria ocorrido em meados do III milênio a.C.
Um outro deslocamento populacional se deu
em meados do II milênio, partindo do Irã alguns arianos. A invasão ariana
na Índia destroi as cidades de Mohenjo-Daro e Harappa misturam-se a população
local (dravídica) original, dando origem a uma sociedade hierarquizada e
sobretudo religiosa de tradição védica, tendo como língua o sânscrito.Nessa
mesma época , no outro lado , ocorriam as invasões dos Hititas , seu
estabelecimento na Anatólia e dos gregos das tribos de Aqueus na Grécia ,
fundadores de Micenas, que destruíram a civilização cretense incorporando
vários elementos culturais aos seus e dominando a parte insular e continental
da Grécia.
Já por volta de 1500 a 1200 a.C. uma nova
onda de migrações de povos da região do Danúbio, também de indo-europeus,
deslocou as antigas civilizações da Idade Do Bronze nos Bálcãs e Anatólia. Na
Grécia ocorreram as invasões dos dórios.No Mediterrâneo central e oeste , os povos
migrados , introduziram as línguas célticas (Península Ibérica e França) e as
línguas itálicas e osco-úmbricas na Península Italiana. Posteriores a essa
época , as migrações se completam para o norte da Europa, norte e centro da
Rússia, regiões Bálticas e Escandinavas.
Flávio Josefo, historiador judeu-romano
fala no seu livro “Antiguidades Judaicas” algo que corrobora com a própria
bíblia cristã e que citamos aqui como colaboradora na tese das migrações.Mesmo
não mencionando datas é válido analisar :
“ Os filhos dos filhos de Noé, para
honrar-lhe a memória, deram os próprios nomes aos países onde se estabeleceram.
Assim, os sete filhos de Jafet, que se estabeleceram pela Ásia desde o monte
Tauro e o Amã até o rio de Tanais e na Europa até Gades (Cádiz), deram os seus
nomes às terras que ocuparam e que não eram ainda povoadas. Gomer e seus filhos: Asquenaz, Rifat e Togorma fundaram a
colônia dos gôrneres (gomeritas - antigos germânicos), que os gregos chamam
gálatas e originaram tantos outros povos. Magog fundou a dos magoghianos, a que chamam citas ou russos. Javan deu
o nome à Jônia e a toda a nação dos gregos. Madai foi o fundador dos madianos e
persas, que os gregos chamam medas. Tubal deu o seu nome aos tubalinos, que
agora se chamam ibéricos e tribos italiotas.* Mosoc deu o próprio nome aos mescinianos (o de
capadócios, que eles têm agora, é novo), e ainda hoje uma de suas cidades tem o
nome de Malaca, o que nos mostra que essa cidade antigamente se chamava assim.
Tiras deu o seu nome aos tírios, dos quais foi o príncipe e que os gregos
chamam trácios. Assim, todas essas nações foram fundadas pelos filhos de Jafet.
Segundo a visão bíblica , Jafet , terceiro
filho de Noé teria sido o patriarca , progenitor de todos os povos de origem
indo-europeia, caucasiana.
5- Estrutura Social Tripartida
Na estrutura social protoindo-europeia
existem evidências de realeza sagrada, sugerindo que o chefe tribal ao
mesmo tempo assumia o papel de sumo sacerdote. Muitas sociedades indo-europeias
ainda mostram sinais de uma antiga divisão tríplice de classes:o clero , os guerreiros e os fazendeiros e lavradores. Tal divisão foi sugerida para o protoindo-europeu pelo filólogo
comparativo e mitólogo francês Georges Dumézil.
Segundo Martins Terra, 2001: “A religião
teve função capital nas formas arcaicas das civilizações. Foi a religião que
determinou a estrutura trifuncional da sociedade hierárquica
indo-europeia.”
Divisão trifuncional da sociedade
indo-europeia:
* 1ª Função: Função
dividida em dois conjuntos. De um lado o aspecto jurídico, e do outro, o
aspecto mágico e religioso. Agrupa-se aqui os seguintes valores: o direito, a
sapiência, as ciências, o poder espiritual e religioso. Esta função é exercida
quase sempre por um Rei-Sacerdote ou por um Rei e um Sacerdote. O rei podia ser
um chefe de um clã ou o rei de uma confederação de vários povos. Entre os
celtas o termo para designar o rei era rig ou rix, entre os latinos rex,
entre os arianos da época védica râjan, entre os trácios rhêsas, etc…
O significado da palavra rei quer dizer retidão, aquele que se rege pelas
normas. O rei era o mantenedor de um sistema íntegro e representava o direito e
a justiça no sentido mais nobre dos termos. O outro aspecto da 1ª função era
religioso. Parece que na sua origem, os Indo-europeus não teriam senão um
Rei-sacerdote, logo uma mesma pessoa que assumia as funções de rei e de grande
sacerdote.
Entre os celtas o sacerdote era o druída,
entre os arianos da época védica era e é o Brâmane (*bhelgh-men), entre os
romanos o flamine (Flamen Dialis), entre os ario-iranianos o mage ou atharvan,
entre os vikings (tardiamente) o godi. O sacerdote assumia também outras
funções como as de filosófo, de sábio, de educador, de médico, e de guardião
das tradições. Entre os romanos existia um sacerdote por cada função divina,
sendo o conjunto denomindo flamines maiores. Um sacerdote para Júpiter
(o dialis), um para Marte (o martialis), e um para Quirinus (o quirinalis).
*2ª Função: Dois conjuntos
formam aqui também essa função: um mais individual e brutal, o outro mais
refinado e coletivo. As virtudes desta 2ª função indo-europeia são os valores
guerreiros, a força física, a energia, a coragem, o heroísmo, a defesa e a
segurança. Para os Indo-Europeus, a guerra é uma atividade relevante do
sagrado. Ela deu lugar a numerosos mitos e a muitos herois solares
como Siegfried (Sigurd), Aquiles ou Cuchulainn. A vitória garante aos guerreiros
a glória eterna, aquela que não morre na memória coletiva dos descendentes.
Trata-se frequentemente de uma guerra defensiva, aquela que mantem a ordem
(cósmica ou terrestre), a guerra contra os representantes do caos. A guerra
protege a ordem e os seus. O aspecto sagrado da guerra encontra-se em inúmeros
rituais e festas militares. Um dos mais célebres rituais era o equus
october entre os romanos. Os espartanos, os celtas, os aqueus, os
germanos, os hititas, os romanos,…todos os povos indo-europeus nutriam um forte
respeito por esta 2ª função guerreira.
* 3ª função: As noções vitais
estão cobertas por esta função: a produtividade, a fecundidade, a abundância de
homens e mulheres, do gado e dos vegetais, a riqueza, a saúde, a paz, a
estética, etc...Esta função se bem que menos nobre que as duas precedentes, era considerada
como merecedora de um profundo respeito. Os Deuses e as Deusas tornaram ainda
mais importante a 3ª função ao longo das numerosas conquistas dos
Indo-Europeus. Todas são divindades ligadas às funções “produção, reprodução e
abundância”.
O povo era organizado em povoados (weiḱs;
"vilas"), provavelmente cada uma com seu chefe (Hrēǵs). Estes
assentamentos ou vilas eram então divididos em grupos familiares (domos), cada
um encabeçado por um patriarca-chefe (dems-potis; grego despotes,
sânscrito dampati).
6-
Teologia natural dos gregos
Martins Terra em seu livro destaca que:
“ Quase todos os indo-europeístas que se
interessaram pelo problema religioso abordaram seriamente a questão de um
monoteísmo primitivo do indo-europeu. No Deus do céu, que em muitos povos
indo-europeus se tornou o Deus Supremo, foi quase sempre associado com o nome “
Pater” pai, parece sobreviver a fé dos primitivos num único Deus. No próprio
culto a Zeus dos antigos gregos se manifesta uma tendência monoteísta”.
Os atributos concedidos a ele nas
teogonias , textos e odes gregos são muito parecidos com os atributos lidos nos textos
hebraicos, como criador , onipotente,
onisciente, mantenedor da ordem cósmica, ordem jurídica, ética, juiz vingador
supremo e absoluto, etc...remetem para uma crença mais antiga enraizada na
religião protoindo-europeia que era de fato o culto ao Deus Pai celeste. O fato
de ele estar presente dentro de uma religião que cultuava vários deuses se deve
à mistura de ritos politeístas incorporados das antigas civilizações do bronze
autóctones , de origem semita e camita, que viviam no Mediterrâneo antes que os
povos indo-europeus conquistassem estes territórios nas ondas de invasões
migratórias. O politeísmo da mesma maneira que o monoteísmo é uma crença
religiosa muito antiga, assim como haviam povos semitas monoteístas como os
hebreus , haviam também povos semitas como os assírios que eram politeístas.
Mesmo assim com toda esta mistura, Zeus ainda passou a ocupar lugar de destaque
na religião mitológica grega. Não se trata de igualar o politeísmo grego à
crença judaico-cristã , mas se percebe
resquícios de monoteísmo dentro da teologia natural dos antigos gregos.
6.1 Nomes de Deus
nas línguas Indo-europeias
No indo-europeu, os nomes que designam a divindade mais
difundidos repousam na forma, deiwos, significando a noção de "o
celeste". Formado da raiz indo-européia dei- "brilhar,
fulgir, iluminar", acrescida do sufixo adjetivo -wo-, tinha esse
tema, primitivamente, o sentido de "brilhante, luminoso".
Posteriormente, na qualidade de epíteto, serviu para designar o
"céu", noção da qual se desenvolveu, na linguagem religiosa, a de
"céu como divindade" e, portanto, a de Deus. Literalmente, Deus era
"o celeste", por oposição ao homem, concebido como "o
terrestre". Essa oposição homem/deus, resultante da
oposição terrestre/celeste é, aliás, muito antiga, presente em
várias línguas, nas quais a palavra denominativa de "homem"
significa, etimologicamente, "o terrestre".
Do tema indo-europeu *deiwos "o
celeste" derivaram-se , através das mais variadas transformações
fonéticas, os nomes da divindade, nas seguintes línguas:
1- Sânscrito deváh, ao qual corresponde o
avéstico daeva-. No avéstico, porém, passou a ter sentido oposto de
"deus do mal, demônio", anjo decaído, cuja história coincide com a expressão
hebraica, ben-xahar "filho da aurora", que S.
Jerônimo traduziu por Lucifer, literalmente, "portador da
luz". Aquele, o mais resplandescente que se rebelou e invejou a Deus por
seus atributos e quis sentar-se no seu trono.
2- Latim deus, de Iu pater, iovis pater donde o francês dieu, o
italiano dio, o espanhol dios e o português deus.
Da evolução fonética normal de *deiwos tirou o latim o
adjetivo divus, donde o feminino substantivado diva "deusa",
o adjetivo secundário divinus "divino" e, deste, o
derivado verbal divinare "advinhar".
3-Germânico-islândes: Tivar, Teiva, Tyzdagr, Zios.
4- Antigo nórdico ou escandinávio, tivar, nome
pluralício, já que o simples singular não é usado.
5- Lituânio dievas. De idêntica origem e
sentido são o letônio dìevs e o antigo prussiano deiwas,
com o qual concorre a variante deiws.
6-Etrusco: Tin, Tinia, Tríade – Tin-Uni-Minerva.
7-Paleo-vêneto: Deivo, Dieu.
8-Indiano: Dyaus-Pitah, Dyaus indra.
9-Hitita: Siuni, Sin, Siunili, Siuniyant.
10-Celta-irlandês-bretão: Dia, Duw, Dove, Divona.
7
- Conclusão
O presente artigo buscou mostrar as
origens dos falares de origem caucasiana. A questão da pátria primitiva, sua
ancestralidade, sociedade e tradição religiosa permearam pelos assuntos
dedicados à questão linguística e estão interrelacionados. Os indo-europeus
são responsáveis por algumas das línguas antigas mais notáveis do mundo,
incluindo o grego, o latim, o persa e o sânscrito. Muitas das mais importantes
línguas modernas do mundo são indo-europeias, como bengali, inglês, francês,
alemão, hindi, russo e espanhol. Mais de metade da população mundial fala uma
ou mais dessas línguas, seja como língua materna ou linguagem comercial.
8-
Referências:
O Proto-Indo-Europeu, 2006 disponível em: https://arqueofuturista.wordpress.com/2006/10/05/os-indo-europeus-uma-sociedade-tri-funcional/
acesso em 13/10/2017.
Martins
Terra, João Evangelista. O Deus dos Indo-Europeus. Zeus e a
Proto-Religião dos Indo-Europeus.Edições Loyola, São Paulo, 2001.
Língua e Religião Proto-Indo-europeia.Ciryl Babaev,
tradução de F.M.S., disponível em: <https://www.stormfront.org/forum/t592908/>
acesso em 14/10/2017.
Os nomes de Deus no Indo-Europeu e no Semítico:
disponível em: http://www.rubensromanelli.net/nomesdeus.html,
acesso em 14/10/2017.
Josefo , Flávio. Antiguidades Judaicas. História dos
Hebreus. Editora CPAD, Rio de Janeiro, 2004.
Sobre a raiz étnica indo-europeia. Disponível em <http://gladio.blogspot.com.br/2015/06/sobre-raiz-etnica-indo-europeia-dos.html > acesso em 14/10/2017. Fonte da foto abaixo.
Figura 2. Representação aproximada das características faciais de um antigo indo-europeu. |
Figura 1. Livro pesquisado de João Evangelista Martins Terra, cardeal da Igreja Católica e sua tese. |
Figura 3. O mapa acima mostra em cor destacada a pátria original dos Protoindo-europeus e as setas indicam as possíveis rotas migratórias para as demais regiões europeias e asiáticas. |