quinta-feira, 16 de novembro de 2023

A veracidade da história patriarcal

 Cristiano De Mari 

       O parâmetro ideal para situar no tempo os primeiros clãs do recomeço da história humana será sempre o Período Neolítico.

      Evidências arqueológicas satisfatórias descobertas no Oriente Médio e arredores apontam para muitas culturas arqueológicas e cidades-estado antigas descobertas que são anteriores ao surgimento de grandes impérios, reinos e civilizações durante este período. Todas evidências arqueológicas dos primeiros descendentes de Noé.

      Muitas destas cidades e lugares estão localizados justamente onde a Bíblia as menciona e outros não existem mais pois desapareceram com o tempo.

      Esse período que começaria em 10.000 a.C., apresenta uma grande variedade de artefatos e ferramentas produzidos pelo homem , o (re)surgimento da agricultura, domesticação de animais, culminando milênios depois com a descoberta de metais: bronze, cobre e ferro.

Essa narrativa factual não impede e nem é atingida negativamente pelo fato de existirem evidências arqueológicas e fósseis humanos mais antigos do que esse período , apenas precisa de uma nova adequação histórica para ter o seu sentido pleno, e isso de fato é.

     Se falamos de fósseis humanos como os de Cro-Magnon e Neandertais, que são muito superiores às datações de 10.000 a.C , estamos,  claro que,  um pouco diferente da história convencional, falando de humanos antediluvianos. Sempre irei sustentar essa ideia até porque não é absurda e encontra muito respaldo. A história humana é ainda muito misteriosa, e a genética humana é muito positiva para retratar as migrações humanas,  bem como suas variações genéticas surgidas a partir de deslocamentos humanos pelo globo. Como sempre falo , muitas vezes as datações podem ser revistas e recalibradas pois os métodos são parcialmente confiáveis, podem ser ajustados novamente, quem estuda ciência sabe disso. Às vezes para manter uma teoria vigente , a narrativa sobre as datações é forçadamente colocada como uma ideia incontestável, mas não é.






Considerações sobre os patriarcas bíblicos nos versículos de Gênesis 


      Existem muitas evidências que apontam as eras patriarcais iniciais durante os anos de entre 10.000 a.C até 7.000 a.C , época dos antigos patriarcas, Noé, Sem, Cam, Jafet, Canaã, Javan, Gomer, Tubal, Arfaxad, Assur e etc... , e até 4.000 a.C, época que se considera como a origem da escrita. 

    Já a época patriarcal mais recente que conhecemos devido muitas informações contidas na Bíblia, compreende a época de Abraão, geralmente datada entre 2.000 a 1.800 a.C.

     Importante entender aqui que para uma família originar futuramente uma tribo,  povo ou nação são necessários centenas de anos transcorridos e ou até um milênio.

      Mediante isso, as narrativas dos patriarcas no Gênesis são uma simplificação feita pelo escritor bíblico,  de toda a história dos acontecimentos do Neolítico no que se refere às primeiras genealogias humanas. O autor fez isso para mostrar o crescimento da humanidade pós dilúvio e também para mostrar de que forma e de onde surgiriam os Hebreus, sua missão como povo escolhido até chegar no ápice que é a vinda de Cristo.

Mas como ele sabia o que estava escrevendo?


*** Devido às narrativas fidedignas dos antigos chefes tribais,  que transmitiram os relatos. Eles eram passados de pai para filho e era uma desonra e desrespeito alterar os fatores da narração. Os Hebreus foram os que melhor souberam transmitir isso. O que muito ajudou foi que o clã dos semitas , principalmente os de Arfaxad , filho de Sem que daria origem futuramente a Abraão,  terem sempre vivido muito próximos dos acontecimentos sobre formação e criação dos primeiros reinos na Mesopotâmia. Eventos como a primeira tentativa de urbanização, Babel e a torre , clãs tribais que viviam nas adjacências, tudo isso era conhecido pois para a Mesopotâmia convergiam quase todas as informações.

     Lógico que, se você pegar diferentes relatos históricos primitivos e mesmo as mitologias, você verá em algumas situações elementos  muito  semelhantes à narrativa bíblica ao passo que outros nem tanto, por vezes muito alterados e por vezes pouco alterados. Isso é um fenômeno que acontece devido ao afastamento dos clãs tribais do núcleo geográfico e história original, das suas migrações, contatos com outros povos e trocas de informações. Também por esquecimento, algum ou outro elemento pode ter sido tirado ou adicionado, isso é algo inevitável que vai acontecer, semelhante ao que aconteceu com o surgimento e a variação dos idiomas pelo mundo. 

      O importante é que na essência quase todos os relatos antigos falam de Deus ou dos deuses, da criação da natureza e do ser humano, da queda moral humana e dilúvio, do princípio e também de um fim e alguns sobre uma renovação humana.





E sobre os indígenas americanos como não aparece nada sobre?

Os indígenas americanos são produto de várias cruzas humanas e variações genéticas, provavelmente vieram dos cruzamentos entre Eurasianos do norte com populações de camitas que migraram pela Ásia e isso teria sido há muitos milênios, podendo ser até anterior ao evento de Babel ou logo depois. O que sabemos é que existem evidências humanas na América muito mais antigas da chegada dos ameríndios há 12.000 anos , e provavelmente são antediluvianos pois os fósseis não se parecem com indígenas nas reconstituições. O indígena americano tem sim um pé na Ásia e sua genética é uma variação dos asiáticos.


    Voltando sobre o assunto anterior, a simplificação das narrativas patriarcais de Gênesis nunca será um erro, mas uma constatação histórica e trata os patriarcas como herois e geradores de nações, tanto que muitos deles terão seu nome atribuído à nações antigas. 

       Exemplos : Mizraim era um dos antigos nomes para Egito, até hoje os árabes chamam o Egito de "Misr", de fato este patriarca entrou com seu clã até lá, outro é Assur que é para alguns o fundador da Assíria, inclusive ele mesmo nessa antiga civilização foi endeusado. Jacó, filho de Isaac e neto de Abraão, teve seu nome alterado para Israel e até hoje nomeia esse país.

    Javan , indo-europeu , era o nome antigo no hebraico para Grécia, escrito como Iawan, em assírio: Jawanu , e tem semelhança com Jônia ou Jônios , uma das ramificações de tribos gregas. 

      Cush nomeou o antigo país ao sul do Egito , chamado " Reino de Kush"; a rainha africana que visitou Israel e esteve com Salomão era a rainha de Sabá. Sabá era uma região geográfica no sul da Arábia e foi um patriarca filho de Cush, e assim por diante em tantas outras situações.

    A todos estes nomes chamamos de epônimos, ou seja , nomes de pessoas reais que existiram no tempo e que muitas vezes não por vontade própria foram consideradas pelos outros como importantes no seu tempo e tiveram sua memória homenageada como nomes de nações antigas, reinos , e até mesmo endeusados fazendo parte de mitologias.

      Estes eventos bíblicos das genealogias dos patriarcas , há que se dizer , são contados em apenas uma página como que numa junção de séculos de acontecimentos transcorridos, salientando aqui também a questão da simplificação do relato. Primeiramente como já falei sendo transmitidas oralmente. As gerações antigas transmitiam as histórias de suas tribos e clãs por meio de conversas entre os membros das famílias dos clãs,  geralmente sentando-se à noite em torno de uma fogueira ou nas suas tendas, fazendo isso  de geração em geração. 

        Os hebreus foram um povo que até onde sabe fizeram muito isso até chegar num ponto em que o povo ficou tão numeroso que precisou ser tudo escrito  na Torá hebraica, onde nela consta praticamente os cinco primeiros livros de nossa Bíblia.

       E assim também fizeram os outros povos mundo afora, visto a quantidade de relatos mitológicos e alguns até históricos mesmo, acerca de sua ancestralidade.

      A Bíblia quando relata a descendência de Noé no Gênesis, está se referindo a descendentes e povos que foram gerados a partir daí, mas que foi preciso de um período muito longo de tempo para surgirem como nação, talvez dezenas ou centenas de anos, podendo haver lacunas no meio , ou seja,  descendentes que não foram mencionados devido também à simplificação, por ser praticamente impossível lembrar de todos e também complicado na época de estar geograficamente em todas as partes do mundo conhecido com a rapidez que temos hoje. 

      Hoje,  o que facilita com a rapidez da internet e tantos textos escritos e difundidos pelo mundo de vários povos, é o trabalho de juntar tudo novamente, a história, a geografia, a mitologia, a religião, a genética e resgatar novamente a história inicial da humanidade.

      Nomes de filhas dos grandes patriarcas não são muito mencionadas devido a tradição ser muito patriarcal, mesmo assim a Bíblia fala de mulheres como as antediluvianas Ada e Sela esposas de Lamec, depois Sara esposa de Abraão, Miriã irmã de Moisés, Ágar mãe de Ismael, Rute, Raquel, Lia, Ester, Dara, Hannah , Abigail, Betsabé, Tamar, Zípora , Jezabel, Maria e também muitas outras. 



       Pela simplificação,  muitos descendentes dos clãs foram deixados de fora e as vezes são encontrados em textos de obras extra bíblicas, os quais devemos ter o cuidado e sabedoria ao analisar.

     Exemplo: não são mencionados os nomes de netos de Javan, ou mesmo de  Cush, ou os filhos de Tubal, de Tiras , de Elam , e etc...assim por diante.

Isso não coloca em questão a veracidade da Bíblia, uma vez que ela se preocupa no seu cerne exclusivamente com questões teológicas de fé, da caminhada de um povo de fé que os hebreus fizeram na sua época dentro de um mundo repleto de paganismo. 

      Quando na bíblia fala-se também que os patriarcas, além dos filhos nomeados e após muitos anos terem gerado outros filhos e filhas , isso indica uma prole maior que não foi nomeada no Gênesis mas que provavelmente existiu. Isso ocorre principalmente nos relatos do Gênesis quando fala dos antediluvianos.

      Sendo assim , partindo do presuposto que essas lacunas existiram pode-se atribuir um tempo maior aos acontecimentos transcorridos da era pós-diluviana(Neolítico).

      A história dos patriarcas é verídica e até hoje ninguém conseguiu contestar com provas irrefutáveis, existe sempre algum ensaio aqui ou ali mas é praticamente impossível refutar, o fator científico via genética é um grande contribuinte para essa questão que engrandece cada vez mais a evidência e consegue cada vez mais adeptos.


Fontes:


Bíblia Sagrada

https://www.paulus.com.br/portal/patriarcas-e-matriarcas-da-biblia/

https://armstronginstitute.org/150-biblical-names-confirmed-through-archaeology

https://biblearchaeology.org/research/topics-by-chronology/patriarchal-era/2555-the-generations-of-genesis