quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Antigos reis do Egito e a unificação de Narmer

Cristiano De Mari 

         As escrituras falam que Mizraim gerou o Egito e seus descendentes povoaram aquelas terras. Na linguagem hebraica antiga ,  Mizraim significa Egito. Algumas teorias apontam que os ancestrais dos núbios, cuchitas e egípcios entraram ou pelo corredor do Levante passando pela Palestina ou atravessando pelo sul do Mar Vermelho, num lugar que chamamos de "Chifre da África". A partir daí, não somente os descendentes de Mizraim, mas também de Cush e Put , todos filhos de Cam se espalharam pelo restante da África. A prova disso é que o Egito já surge com certo grau de conhecimento, instrução e civilização.E esse conhecimento fora herdado na Mesopotâmia, inclusive alguns testes de DNA confirmam parentesco de múmias egípcias com pessoas da Antiguidade do Oriente Próximo, portanto locais também de abrangência mesopotâmica.

       Como acreditamos que existiu um conceito fundador, uma tentativa de primeira urbanização e reunião de povos antigos sob uma mesma direção e entendimento próprios ( conforme os relatos sobre Nimrod e a torre de Babel) fica crível identificar a Mesopotâmia como ponto de partida e exemplo civilizatório para os demais clãs tribais que estavam se aperfeiçoando, e com o clã que originaria os Egípcios seria assim também.

       Segundo o relato bíblico, Mizraim foi o pai de Ludim, Anamim, Leabim, Naftuim, Patrusim, Casluim (ancestral dos filisteus) e Caftorim. Todos estes nomes terminam com o sufixo -im , isso pode também estar significando não somente uma pessoa mas o coletivo destas tribos, já que aparenta estar no plural.

      Destes , suspeita-se que os Egípcios se originaram de dois de seus filhos: Naftuim e Patrusim.


      Sobre Naftuim, muitos peritos associam esse patriarca com uma frase Egípcia que significa "os do Delta". Com esta base se conclui que a tribo descendente de Naftuim ocupasse o Baixo Egito na desembocadura (foz) do Rio Nilo, sendo portanto, uma das tribos originárias do Egito antigo.

     Patrusim e sua descendência, segundo a paráfrase caldeia, habitaram também partes do Delta do Nilo, porém de acordo com Bochart, eles habitaram principalmente a região Tebaida, chamada de Pathros, na Escritura.

       A Tebaida era uma região do antigo Egito contendo os treze nomos mais ao sul do Alto Egito, de Abidos até Assuã. Portanto do Alto Egito. Adquiriu este nome por sua proximidade com a antiga capital egípcia de Tebas.

      O período pré-dinástico do Egito foi precedido pelo neolítico Badariano (4.400 a.C a 3.900 a.C) e por outras culturas nilóticas, incluindo a cultura de Nabta Plaia, a cultura Tasiana, a cultura de al-Fayyum e a cultura de Merinde.

       Durante estes períodos de muitos séculos aconteceram os assentamentos e desenvolvimentos dos clãs tribais que gerariam os Nomos tanto do Alto(sul) Egito, como do Baixo Egito (Delta do Rio Nilo próximo a desembocadura para o Mar Mediterrâneo), estes Nomos seriam pequenas unidades territoriais ao longo do Rio Nilo governadas por um chefe.

    Nesse princípio, antes da unificação surgiram alguns reis que também chamamos de proto-faraós ( proto : primeiros). Eles governaram tanto o Alto como o Baixo Egito, tudo isso antes da chegada do unificador Narmer. 



   Entre esses reis - faraós da dinastia "zero" por que ainda não existia o Egito unificado,  estariam seus nomes desvendados segundo os achados arqueológicos das estelas e paletas com altos relevos, alguns nomes de reis locais encontrados são estes tanto os do Baixo como do Alto Egito : rei Órix, Peixe, Touro I,Concha, Canídeo, Leão, Cegonha, Falcão I, Falcão II, Mim, Boi I,Boi II,Touro II, Hedju-Hor, Ni-Hor, Hessequiu, Caau, Teieu, Tiexe, Neebe, Uazner, Meque,  Falcão Duplo, Pe-Hor ou rei Elefante, Escorpião I, Iri-Hor , Xendju ou rei crocodilo, Ka, e o rei Escorpião II.

      Estes todos, provavelmente eram patriarcas e chefes tribais de seus respectivos nomos. O período de governo incluindo o tempo de todos eles juntos aproximado está entre 3.300 a 3.100 a.C. Antes disso existe o período lendário e entre o período lendário e o pré-dinástico existe um espaço de tempo muito grande, talvez ainda por ser descoberto ou também época dos assentamentos.

     Percebam que muitos nomes de faraós estão ligados à animais, e estes eram considerados sagrados por eles e provavelmente acreditavam que sua energia os guiava , ou mesmo também porque tinham alguma afinidade com alguma característica desse animal. O Egito foi uma nação singular em todos os sentidos e nem tudo sabemos, muitas coisas são ainda misteriosas. 

      Esses proto-faraós eram sim de pele negra , inclusive muitos posteriores a eles. A tonalidade de sua pele era um pouco mais clara dos núbios, cuchitas e demais africanos da África Subsaariana, mesmo assim era negra mestiça.Os descendentes de Cam na sua maioria eram negros, apenas os canaanitas eram um pouco mais claros.

          Mais adiante com a invasão dos semitas Hicsos de pele mais clara no Egito que foi na época em que José filho de Jacó estava no Egito e posteriormente no tempo das invasões dos gregos com Alexandre o Grande, é que as dinastias apresentaram pessoas mais claras, do contrário não, o Egito é uma civilização predominantemente negra.



     

     Quem irá inaugurar a primeira dinastia histórica da unificação será Narmer (também associado ao nome Menés).Narmer era governador de todo o Alto Egito e sua coroa era branca, quando conquistou as terras do Baixo Egito ao norte , passou a usar de forma unificada também a coroa vermelha, símbolo do Baixo Egito.




      A Paleta de Narmer, onde está seu nome, retrataria a unificação do Alto e Baixo Egito. O período de seu reinado pode ter sido em qualquer momento entre 3273 a 2987 a.C, de acordo com datação em radio-carbono, mas devido a calibração do método e devido a antiguidade dos fatos não é fácil situar no tempo de maneira precisa, é comum considerar-se academicamente a data de 3.200 ou até 3.100 a.C. para seu início.

      A maioria dos sítios arqueológicos escavados no Egito provém do Alto Egito, pois as inundações do Rio Nilo foram mais fortes na região do Delta, e a maioria dos sítios do Delta do período pré-dinástico já foram enterrados por completo.

       A evidência mais antiga de uma possível associação da identidade de Narmer com a de Menés é uma impressão de selo proveniente de Abidos apresentando o sereque ( símbolo hieroglífico) de Narmer alternado com o símbolo do tabuleiro, que apresenta o valor fonético mn, complementado pelo sinal de n, que é sempre usado na escrita do nome completo de Menés. Embora pareça uma forte evidência de que Narmer e Menés tivessem sido a mesma pessoa, a impressão do selo pode ser interpretada como contendo o nome de um príncipe de Narmer chamado Menés. Baseando-se em análises de outras impressões de selos da Primeira Dinastia contendo o nome de um ou mais príncipes, é possível interpretar que Menés tenha sido o sucessor de Narmer, ou seja, seu filho Hor-Aha.


     Por meio de fontes históricas conhecidas como: as inscrições de Nagada e de Abidos, a iconografia da paleta de Narmer de Hieracômpolis e o testemunho do sacerdote Manetón (da época ptolemaica), teria existido uma personalidade que regeu a terra do Egito de nome Menés ou em egípcio " Meni " . Ele unificou os territórios do Alto Egito (Sul) e do Baixo Egito (Norte), e foi responsável pela fundação da 1ª Dinastia, por volta de 3.200 a.C. 

       O nome, Menés, significa "Aquele que persevera".É encontrado em citações da obra História do Egito do historiador Maneton que viveu durante o período do Egito ptolomaico ( após as invasões de Alexandre ). É mencionado por Heródoto, no século V a.C., sob a forma Min uma variante que pode ter resultado da contaminação com o nome do deus Mim. Heródoto o identifica como o primeiro ser humano a reinar no Egito e atribui a ele a construção de uma barragem em Mênfis, desviando o curso do rio Nilo. Ainda segundo Heródoto, depois de desviar o curso do Nilo, Min teria fundado a cidade de Mênfis e mandado construir lá um lago artificial alimentado pelo rio e também um grandioso templo ao deus Hefesto (geralmente identificado com o deus egípcio Ptah). Outros identificam o deus Mim como uma variante para o antigo patriarca Mizraim, uma forma de endeusamento que os humanos criaram para personalidades antigas importantes como já mencionei várias vezes.


     A primeira divisão cronológica da história política do Antigo Egito, intitulada de período arcaico (3.200-2.635 a.C) foi chamada de Período Tinita, designação que deriva do nome da primeira capital onde se centralizou o poder político:  Thínis.

       O governo de Narmer (Menés) foi uma monarquia absoluta e teve por símbolo uma coroa composta pela combinação das duas anteriormente existentes; a coroa Branca Hedjet do Alto Egito e a coroa Deshret Vermelha do Baixo Egito. A monarquia também funcionava como uma doutrina religiosa, pois o faraó era descendente divino e era também ele uma divindade. Toda essa tradição se perpetuou nas dinastias seguintes.

      Em termos administrativos, o faraó teria exercido uma política que agregava e conciliava  os “nomos”,  que eram pequenas divisões administrativas do poder local surgidas do enquadramento territorial anterior, que agora integraria o Egito unificado. Só um governo autônomo, coeso e devidamente hierarquizado é que permitiria ao faraó garantir a estabilidade política interna e fazer face às necessidades e adversidades do reino.

    No plano militar, o combate aos núbios a sul, aos líbios a oeste e aos beduínos do Sinai a leste, teriam sido suas principais preocupações da I e II dinastias, mas apenas defensivamente e sem intenções expansionistas, pois a prioridade dos faraós terá sido a de assegurar as fronteiras, evitando a infiltração e perturbação destes povos nos domínios egípcios. 

      O desenvolvimento técnico da época tinita revelou-se na arquitectura com estruturas de complexidade surpreendente, como as represas e os sistemas de irrigação e captação de água. 

       No plano cultural os Egípcios desenvolveram um sistema de escrita que permitiu ao governo central registar, organizar, veicular e arquivar a sua comunicação, bem como difundir informações ou conhecimentos dentro do reino (técnicos, religiosos, científicos). Sem a escrita não teria sido possível atingir um desenvolvimento tão célere e característico desta civilização, porque a informação não tendo nenhum suporte palpável, duradouro e legível pelas classes políticas e intelectuais, torna-se frágil, dispersa-se ou perde-se completamente.


Fontes :


https://www.thecollector.com/narmer-first-egyptian-pharaoh/

 https://www.patternsofevidence.com/2017/06/21/ancient-mummy-dna-may-show-a-link-to-noahs-descendants/?fbclid=IwAR3pOZ_ISOS_rmLrWrTOQSUcwpVOcDMsLW8uYt9gLeEcbeAV8ojIVv52wfE

https://link.springer.com/article/10.1007/s10814-016-9094-7

https://www.britannica.com/place/ancient-Egypt/The-Predynastic-and-Early-Dynastic-periods