quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

A originalidade em Gênesis mediante alguns paralelismos mitológicos

 Cristiano De Mari 


       A história da criação do universo, do mundo e do ser humano narrada em Gênesis é considerada como a mais fidedigna possível. Possivelmente, ela veio dos relatos orais dos antigos clãs tribais semitas e em dado momento da história, um grupo de semitas chamados de Hebreus decidiu colocar tudo por escrito , por meio de Moisés, que era altamente instruído, visto que fora criado na corte do faraó e dominava tanto a escrita egípcia como também o aramaico.

      No tempo do exílio dos hebreus na Babilônia de 597 a 538 a.C ,  foram compilados (juntados) todos os escritos de Moisés pelos sacerdotes no que veio a transformar-se depois na Torah judaica, que praticamente é o conjunto dos 5 primeiros livros bíblicos chamado de Pentateuco.

     De todas as histórias antigas da criação, a do Gênesis é a única que apresenta um Deus monoteísta criador no início de tudo, antes da própria criação da matéria, do espaço e do tempo. A originalidade está nessa ideia primordial da crença num Deus único e em nenhuma outra história da criação isso ocorre, as outras versões de outros povos falam de "deuses" . E é possível encontrar paralelos semelhantes nas tabuinhas Naacal encontradas na Índia, que se referem à criação do mundo , bem como sua relação com continentes desaparecidos , Atlântida, Mu e Lemúria.

      Na página 15 do livro, O continente perdido de MU de autoria do coronel britânico e pesquisador James Churchward diz o seguinte:

     " E quando tudo já estava feito, foi dado o sétimo mandamento:  Criemos um homem a nossa imagem e semelhança e se dê a ele o poder de reinar sobre esta terra.

       " Dessa forma, Narayana, a inteligência de Sete Cabeças, o Criador de todas as coisas do universo, criou o homem e colocou em seu corpo um espírito vivente e imperecível, e o homem tornou-se uma inteligência, como Narayana.E a criação foi perfeita."

      Na página 25 deste mesmo livro, a tradução da tabuinha número 1584, diz resumidamente:

   " O primeiro homem foi criado "duplo". Depois essa criatura foi adormecida e durante seu sono seus princípios foram divididos, e o primeiro homem se desdobrou em homem e mulher.Através do homem e da mulher, a reprodução perpetuou a raça.O mundo inteiro foi povoado por este casal."

    Algumas semelhanças com a criação do homem e da mulher em Gênesis?

       E não é só nesse texto desse brilhante livro, vejam que muitos outros relatos , inclusive fora da nossa Bíblia Sagrada apontam para situações que nela estão escritas há muito tempo. As provas de um início, da criação do mundo , da raça humana, da fauna e flora por meio de um Ser pensante( Deus) que é puro espírito está em diversos textos sagrados antigos e mitológicos. Sabendo-se extrair tudo é confirmado.

      O coronel James Churchward juntamente com um sacerdote Rishi indiano foram os que conseguiram traduzir estas tabuinhas Naacal com várias grafias simbólicas extraídas de um antigo templo hindu.Estas tabuinhas contém muitas informações valiosas sobre os relatos originais da criação.

      A criação do homem(Adão) e da mulher( Eva) e sua descendência serão os humanos antediluvianos, dos quais só sobraram a família de Noé depois do Dilúvio.

      A criação do homem(Adão) e da mulher (Eva) está no início também e sua descendência serão os humanos antediluvianos, dos quais só sobrou a família de Noé depois do Dilúvio.




     O mito sumério de Adapa, que em outras versões se chama Alulim,

(o primeiro homem), foi escrito a mais ou menos em 2.000 a.C. podendo ser milênios mais antigo o seu próprio relato oral, e é paralelo ao Adão bíblico.

    Adapa era considerado como o primeiro dos "Apkalu" que significa no plural: os sete sábios antediluvianos.

Vejamos os paralelismos:


* Ambos os sujeitos foram submetidos a um teste diante da divindade, e o teste foi baseado em algo que deveriam consumir.

* Ambos falharam no teste e, portanto, perderam a oportunidade de alcançar a imortalidade.

* Como resultado do seu fracasso, certas consequências recaíram sobre a humanidade.

* Ambos os sujeitos qualificam-se como membros da primeira geração da humanidade.

* Os seus nomes podem ser equiparados linguisticamente.


       No entanto, entre as diferenças que os pesquisadores observaram, estavam estas: 


* ** Adapa foi testado com pão e água, enquanto Adão e Eva foram testados com a fruta”. 


*** Embora ambos tenham sido condenados à morte e “esta sentença seja proferida em termos bastante semelhantes”, estes termos têm “significados bastante diferentes nos seus respectivos contextos”.


 *** A escolha de Adapa foi feita em obediência ao deus Ea, mas Adão fez sua própria escolha livre, contrária às instruções corretas. 


*** A ofensa de Adapa, em essência, foi perturbar o curso da natureza, enquanto a ofensa de Adão foi de natureza moral.”


    Concluindo, existem de fato paralelos entre Adão e Adapa e é possível ver estas duas fontes separadas como testemunhas independentes de um evento comum, que foram alterados em alguns pontos devido aos contextos locais diferentes. 


História do Éden



      Durante muito tempo, a história do Éden atraiu muita atenção acadêmica.

A história foi comparada com mitos sumérios como o de  Enki e Ninhursag, uma história paradisíaca suméria. O relato descoberto mais célebre sobre o jardim como um lugar luxuriante e onde residem os deuses é encontrado em uma literatura suméria chamada “Enki e Ninhursag”.


Resumidamente:


"A terra Dilmun( Éden) é pura, a terra Dilmun é limpa;

A terra Dilmun é limpa, a terra Dilmun é mais brilhante…

Em Dilmun, o corvo não solta gritos…

O leão não mata, o lobo não arrebata o cordeiro,

Desconhecido é o cão selvagem devorador de crianças…

Nenhuma velha diz: “Eu sou uma velha”,

Nenhum velho diz: “Eu sou um velho”.

........etc......


     Os sumérios são considerados um povo não-semita altamente talentoso, de origem possivelmente Camita, descendentes de Cam por meio de Nimrod, que se estabeleceram no baixo vale do Tigre-Eufrates por volta do 4º milênio a.C. Pela breve descrição da idílica ilha de Dilmun, ela é aparentemente semelhante ao conceito cristão de paraíso onde a vida nunca termina. A ilha ou terra é descrita como “pura”, “limpa” e “brilhante” e onde não há velhice. De acordo com a literatura suméria, esta ilha/terra foi trazida da terra pelo deus-sol Utu e transformada num verdadeiro jardim dos deuses. Aparentemente, do jardim (Dilmun) no mito sumério, era um lugar criado para deuses.


Alguns estudiosos verificaram o seguinte:


* Dilmun é uma terra “pura”, “limpa” e “brilhante”, uma “terra dos vivos” que não conhece doença nem morte. O que falta, porém, é a água doce, tão essencial à vida animal e vegetal. O grande deus sumério da água, Enki, ordena então a Utu, o deus do sol, que o encha com água doce trazida da terra. Dilmun é assim transformado num jardim divino, verde com campos e prados carregados de frutos .

      Kramer pensa que existem “numerosos paralelos” entre este mito do “paraíso divino” e a história do Éden. Ele sugere que o paraíso bíblico, “um jardim plantado a leste no Éden”, pode ter sido “originalmente” idêntico a Dilmun, “uma terra em algum lugar a leste da Suméria”. Ele também compara a “água doce trazida da terra” em Dilmun com a água doce em forma de vapor para regar a terra em Gênesis 2:6. 

Observou também que:


* O nascimento das deusas sem dor ou trabalho de parto ilumina o pano de fundo da maldição contra Eva de que será sua sina conceber e dar à luz filhos em sofrimento;


*  O fato de Enki ter comido as oito plantas e a maldição proferida contra ele por sua má ação lembram o consumo do fruto da árvore do conhecimento por Adão e Eva e as maldições pronunciadas contra cada um deles por esta ação pecaminosa.


     Kramer sustenta que esta formação literária suméria explicaria por que Eva, “a mãe de todos os viventes”, foi formada a partir da costela de Adão. No mito atual, um dos órgãos doentes de Enki é a costela (chamada de " ti " em sumério); a deusa criada para curar sua costela era chamada na Suméria de Nin-ti  palavra que vinha de “a senhora da costela”. Mas o " ti" sumério também significa “fazer viver”. O nome Nin-ti pode, portanto, significar “a Senhora que dá vida” e também “a Senhora da costela”. Através do jogo de palavras, essas duas designações foram usadas para a mesma deusa. É esse “trocadilho literário”, segundo Kramer, que explica o título de Eva e o fato de ela ter sido formada a partir da costela de Adão.

     As evidências científicas apontam que todos os seres humanos descendem de uma mulher primitiva que teria vivido na África. A Eva bíblica tem também o seu lugar na história.

      Pelas análises do DNA mitocondrial todos os humanos de hoje , independentemente da sua raça, descendem de uma mulher e que teria vivido primariamente na África( pode-se reconsiderar o local) pelos cálculos há mais ou menos 150.000 anos antes de Cristo. O DNA do cromossomo Y masculino também está presente nos mais variados povos da terra com mudanças de padrões genéticos o que confirma a alta variedade de povos existentes.

    Todas as outras histórias, lendas e mitos da criação de outros povos antigos, mesmo que em alguma ou outra versão a gente pode encontrar um resquício de monoteísmo, semelhante ao Gênesis , mesmo assim,  todas elas sem exceção apresentam um Universo que se auto gera para depois surgirem os deuses politeístas e dominarem o escopo religioso antigo.



     Não existiria assim, nenhuma influência dos mitos de criação sumérios ou babilônicos no relato da criação de Gênesis. A Suméria como um reino organizado agregado por várias cidades- estado começa em 3.200 a.C, sendo que Eridu uma cidade de origem sumeriana (descendentes de Nimrod) já em 5.400 a.C existia como vilarejo neolítico (foram encontradas 18 camadas de assentamentos) e a Babilônia como império alguns séculos depois. Portanto a origem do relato do Gênesis se dá ainda na aurora dos povos pós catástrofe em 10000 a.C aproximadamente, tendo sido escrito milênios depois por Moisés.

     Do contrário, sumérios e babilônicos e outros povos é que podem ter sido influenciados por um relato primitivo semelhante ao narrado no Gênesis, uma vez que quanto mais recuarmos no tempo a oralidade dos eventos era mais pura, visto que o tamanho populacional dos povos era menor vivendo mais próximos. Para exemplificar, a lista de reis sumérios encontrada em Eridu também fala de reis antediluvianos de grande longevidade e as histórias sobre a criação do homem através do barro da terra também são muito semelhantes , as histórias do Dilúvio, Utnapishim , Gilgamesh ou Ziuzudra são muito semelhantes o que denota uma proximidade entre os povos.

Só que, diferentemente do Gênesis eles falam de deuses no plural e não de um único Deus.

     Estes povos pegaram o relato monoteísta primordial e alteraram para sua realidade religiosa politeísta, bem como, com as lendas de surgimento de seus deuses muitas vezes foram certamente originadas de líderes de tribos, caçadores, famosos de seus tempos, pessoas comuns que talvez realizaram algo grandioso para a época em vida, tendo posteriormente sua memória endeusada."


Fontes:

https://members.ancient-origins.net/articles/eden-revisited

https://www.google.com.br/amp/s/www.ancientpages.com/2019/03/27/apkallu-seven-antediluvian-sages-created-by-god-enki-were-they-the-watchers/amp/

https://www.worldhistory.org/Garden_of_Eden/

https://biblearchaeology.org/research/flood/3050-genesis-and-ancient-near-eastern-stories-of-creation-and-flood-part-ii

https://www.calameo.com/read/005505615cff35752ef76