sábado, 27 de janeiro de 2024

Os eslavos e as origens da Rússia

 Cristiano De Mari



       Estudando a Pré-história antiga, história patriarcal , migrações e genética humana consegue-se reconhecer as origens dos povos nas antigas genealogias.Também é possível rastrear os povos modernos até seus antepassados a partir dos eventos ocorridos lá atrás, como surgimento da identidade dos povos, dos aparatos estatais, políticos, estratificação social, conquistas de reinos, formação de impérios, e também a miscigenação étnica e cultural.

      Uma vez que vamos falar sobre os Russos e a contribuição dos povos eslavos , é importante entender que como sempre falo não existe um povo ou etnia , de raça totalmente pura, assim se deu também nas origens dos russos.

      Os antigos patriarcas , descendentes de Noé, não somente deram origem a povos dentro de sua linhagem tribal própria, mas em um certo momento da história misturaram-se também com povos vizinhos, descendentes de outros patriarcas, que eram nada mais nada menos do que descendentes de seus tios e primos nos mais variados graus de parentesco.

       Quanto mais longe se distanciarem as genealogias no quesito desenvolvimento e aumento populacional aliado às migrações e busca por novas terras, mais se perderão os costumes comuns e linguagem comum. Mesmo assim muitos elementos primordiais restarão, como algumas similaridades entre as linguagens  e mitologias , por exemplo.



Origens dos eslavos e a Rússia


        Ezequiel 38:2 diz: 


“Filho do homem, vire o rosto contra Gog, a terra de Magog, o príncipe principal de Meseque ( Mosoc) e Tubal, e profetize contra ele”. 


     Mosoc e Tubal, e seus descendentes, foram mencionados juntos ao longo da história. A Bíblia fala deles como povos , tribos ou clãs aliados que habitaram próximos uns dos outros. Inscrições assírias falam de ambos os povos, e eles são até encontrados listados juntos nas histórias gregas.

       Supostos povos derivados e miscigenações:


   *Do patriarca Magog: citas, godos, algumas tribos da Escandinávia, finlandeses, hunos, eslavos (não incluindo eslavos orientais, búlgaros), magiares (húngaros), irlandeses, e alguns povos do Cáucaso.


      *Do patriarca Mosoc: Eslavos orientais (incluindo russos), frígios (possivelmente),Muški, Roxolanos, parte dos armênios, irlandeses.

        Inscrições assírias mencionam um povo chamado Muski, que ocupava uma região na Ásia Menor, ao oeste da Assíria. Os imperadores assírios Tiglate-Pileser I, Tukulti Ninurta II, Assurnasirpal II e Sargão mencionam conflitos com eles.

       Muitos sugerem que os Muski devem ser relacionados com os Frígios, os quais aparentemente dominavam grande parte do oeste e do centro da Ásia Menor (atual Turquia) por volta do fim do segundo milênio a.C. O Rei Mita de Muski, mencionado pelo imperador assírio Sargão, é associado ao Rei Midas, da Frígia, descrito na tradição grega como governando naquele mesmo período.

      De acordo com uma antiga tradição entre os historiadores gregos, os frígios migraram para a Anatólia vindos dos Balcãs e Heródoto afirma que eles eram chamados de "bryges" quando ainda viviam ali.Os frígios também foram ligados pelos autores clássicos aos migdones, o nome de dois grupos distintos, um dos quais vivia no norte da Macedônia e outro, na Mísia. Os frígios também já foram identificados como sendo os bebryces, um povo que acredita-se ter guerreado contra a Mísia antes da Guerra de Troia sob a liderança de um rei chamado Migdon mais ou menos na mesma época que os frígios teriam tido um rei de mesmo nome. O historiador clássico Estrabão agrupa frígios, migdones, mísios, bebryces e bitínios num mesmo conjunto de povos que teria migrado dos Balcãs para a Anatólia.

      O patriarca Tubal , considerado como o progenitor de ibéricos, itálicos, ilíricos, georgianos, tobelis , também aparece nos estudos sobre a Rússia. No lado oriental dos Montes Urais, existe uma menção que o recorda através da geografia pelo nome de um rio chamado Tobol e da cidade que leva seu nome, Tobolsk. Embora não seja mais uma cidade proeminente, Tobolsk já foi a sede do governo russo sobre a Sibéria, à medida que os russos se expandiam para o leste dos Urais.

     Em genética humana, os haplogrupos G e G2a , haplogrupos genéticos dos povos agrícolas neolíticos que primeiro se espalharam desde o Cáucaso, Anatólia, até sul do Mediterrâneo, passando por Grécia, Itália até a Península Ibérica , está presente também no DNA de populações russas. Veja que, a proximidade entre Mosoc e Tubal lá no início provavelmente provocou uniões familiares entre os descendentes destes dois ramos, assim se pode dizer também de Magog. Estes foram patriarcas com muitas linhagens, embora a Bíblia é muito sucinta nisso, são necessários também os estudos da genética, da historiografia, da arqueologia e da linguagem comparada.

      A Enciclopédia Britânica diz:  fácil detectar entre os próprios Grandes Russos dois ramos distintos, diferentes um do outro por ligeiras divergências de língua e tipo e profundas diversidades de carácter nacional…” (Volume 23, 11ª Edição). A enciclopédia coloca um ramo dos Grandes Russos como uma massa compacta na Rússia Central, e o segundo ramo em torno dos Montes Urais, onde os Grandes Russos “reaparecem num segundo corpo compacto, e lá se estendem através do Sul da Sibéria”.

      Isto descreve o ramo do patriarca  Mosoc, que se estabeleceu em torno de Moscou e da Rússia Central, e o ramo de Tubal, que se estabeleceu em torno dos Montes Urais e Tobol. Esses dois ramos formam o núcleo dos Grandes Russos. 



Migração da Ásia Menor


     Na época em que Ezequiel registrou sua profecia, alguns descendentes de Mosoc e Tubal ainda viviam na Ásia Menor. 

      Como então, essas pessoas poderiam estar na Rússia hoje?


      A resposta é que eles migraram para fora do Oriente Médio, tal como quase todas as outras raças e povos fizeram desde os acontecimentos no pós-Dilúvio.

     Obviamente que, se nenhum dos povos listados na Bíblia em Gênesis 10, tivesse migrado daquela região, toda a população mundial seria uma massa compacta de pessoas vivendo ainda no Médio Oriente. 

      Vejamos os registros históricos para rastrear a migração de Mosoc e Tubal da Ásia Menor para onde residem hoje.

     No ano 400 a.C., os gregos se referiam  a Mosoc e Tubal como os Moschoi e Tibarenoi no norte da Ásia Menor, na extremidade sudeste do Mar Negro.

     Heródoto, historiador grego registrou que quando o imperador persa Xerxes I decidiu conquistar a Grécia em 480 a.C.,  Moschianos e os Tibarenianos estavam entre as tropas alistadas. Heródoto deu a descrição da organização militar de Xerxes, que uniu esses dois povos aparentados: “O equipamento mosquiano era o mesmo dos tibarenos." 


        Mais uma vez Meseque e Tubal são encontrados juntos, e desta vez estão localizados mais ao norte.

       No primeiro século d.C., os descendentes de Mosoc e Tubal estavam localizados ao redor da região do Cáucaso, na atual Geórgia. O geógrafo Estrabão escreveu sobre o “país Moschian” e as “Montanhas Moschian” na área . Bem ao lado deles estavam situados os “Tibareni”. 

       O historiador judeu Flávio Josefo chamou esses descendentes de Tubal de “Íberes”, ou ibéricos, o que vem da eliminação do “t”.

       O geógrafo romano Plínio, que viveu na mesma época, chamou a área da Ibéria em sua obra História Natural e observou que “Moschi” também vivia próximo a eles.

       Graças a registros de historiadores antigos, descendentes de Mosoc e Tubal podem ser rastreados em sua migração, da Ásia Menor em direção ao norte até o início da vasta estepe russa. Depois de cruzarem o Cáucaso, viajaram mais para o norte para ocupar a terra que hoje é a Rússia, deixando os nomes de seus ancestrais em certos rios e cidades.

       Uma análise completa de Ezequiel 38 confirma que a história fornecida pelas inscrições assírias, Heródoto, Estrabão e Plínio, é precisa. Ezequiel 38 afirma que os descendentes de Mosoc e Tubal estariam dentro e ao redor da “terra de Magog”.

       Este termo refere-se ao território ao norte do continente euro-asiático que começa na estepe russa e se estende até o Pacífico. 

      Contudo, o continente euro-asiático é dominado por outra potência, tal como Ezequiel 38 disse que seria. Hoje as pessoas que vivem nesta “terra de Magog” são dominadas pela Rússia ou pela China, duas nações originadas de Jafet, a Rússia muito mais e a China a partir de misturas raciais de Togarmah, Magog e de camitas, assim como a maioria dos asiáticos.


Mas os russos não são eslavos?


       A Rússia é composta por várias raças e povos diferentes, tais como finlandeses, turcos e eslavos, o mais numeroso corpo étnico e linguístico de pessoas na Europa.

     O povo russo, bem como o da Ucrânia e da Bielorrússia, é hoje classificado como povo eslavo oriental. Existem também os eslavos ocidentais, como os polacos, checos e eslovacos, e os eslavos do sul, incluindo os sérvios, croatas e eslovenos.

       Segundo os críticos, se Mosoc e Tubal deram origem de fato aos Russos, estes patriarcas bíblicos devem também referir-se ao resto da Europa Oriental, que é colonizada pelo mesmo povo eslavo, cujas fronteiras se estendem para além da Rússia e “da terra de Magog”.

        Mesmo dentro do grupo russo-eslavo oriental, existiam três tipos étnicos principais reconhecidos pelos estudiosos: os Grandes Russos, os Pequenos Russos e os Russos Brancos. Estes termos estão agora em desuso, mas os Grandes Russos eram considerados aqueles que viviam na Rússia propriamente dita, os Russos Brancos aqueles na Bielorrússia que tinham muito mais influência de povos bálticos , e os Pequenos Russos os da Ucrânia e da Moldávia.

      Embora possam ser um povo aparentado, existem diferenças claras nas características nacionais de todas essas nações que agora são consideradas eslavas orientais.

       O tipo étnico dos Grandes Russos foi o resultado de certas tribos eslavas que se casaram com os descendentes de Mosoc e Tubal. Esses descendentes são provavelmente as pessoas que falavam algumas das línguas fino-úgricas, línguas que ainda são faladas em muitas das mesmas áreas para as quais Mosoc e Tubal migraram, uma das quais é até chamada de Moksha.

       Os estudos modernos também confirmam isso. Por exemplo, o historiador russo Walter Moss escreveu em sua História da Rússia:


 “ O casamento entre eslavos e finlandeses criou um novo tipo étnico, o russo ou grande russo".


 Rosh ou Rus


       Há uma controvérsia sobre a tradução da palavra hebraica rosh no versículo 2. Em algumas versões bíblicas  esta palavra foi traduzida como o adjetivo de “chefe”. Mas a tradução adequada – realizada por diversas traduções diferentes e explicada como tal por muitas enciclopédias e comentários bíblicos – usa a palavra como um  nome próprio. Provavelmente ou de um patriarca antigo ou de algum local geográfico.

        Mais importante ainda, Rosh era um lugar e um povo bem conhecido na Mesopotâmia, no atual Irã. É encontrado em antigos manuscritos assírios com o nome de Rasu.

        A inscrição de Sargão em Khorsabad, datada de 700 a.C., descreve uma terra, “a terra de Rasu da fronteira de Elam, que fica ao lado do Tigre”.

       A migração do povo de Rosh é menos documentada do que a de Mosoc e Tubal. No entanto, eles deixaram vestígios, como o rio Ros, na Ucrânia, na área onde foi formado o primeiro estado com seu nome, a Rus de Kiev.

       Nesta época, " Rus" ou " Rosh" era um reino de múltiplas etnias, incluindo os eslavos, fino-úgricos e bálticos, governados pelos escandinavos da casa de Riurik.

       De onde veio o nome Rus ainda é debatido, existem outras teorias. De acordo com a Crônica Primária dos Eslavos, o nome foi dado aos seus governantes escandinavos.

  Por volta do século IX, guerreiros e comerciantes da Escandinávia, chamados "varegues" , (mais conhecidos como vikings), já tinham penetrado nas terras eslavas do leste. Eles ocasionalmente combatiam o povo local, conhecido por eles como rus, e utilizavam os vencidos como escravos ou SLAV. A palavra eslavo significa

" escravo".  Acredita-se que os termos "russo" e "eslavo" tenham sido cunhados ou adaptados pelos escandinavos, dos quais os termos usados atualmente tenham se originado.

      O primeiro estado eslavo na região foi a Rússia de Kiev. Antigas sagas islandesas e runas chamam o território russo de "Gardariki" (Terra das cidades), posteriormente conhecidas pelos nomes de "Pequena Rússia" ( Ucrânia) e Grande Rússia. De acordo com estas sagas, o país estava dividido em três partes principais: Holmogordo (Novogárdia Magna), Conugordo (Kiev) e Palteskja (Polácia). A região de Kiev era considerada a melhor terra de todo o país. O território fora destas três porções era visto pelos noruegueses como a terra dos tártaros. Exportações de escravos, peles, mel e cera contribuíram para o crescimento de Kiev e da Novogárdia. As duas cidades rivalizavam com outras cidades europeias em tamanho, riqueza e belezas arquitetônicas.

       Alguns estudiosos russos, motivados pelo desejo de não enfatizar a influência escandinava no início da história russa, acreditam que Rus veio do nome de uma tribo sármata, chamada Rhoxolani.

       Os sármatas eram um grupo de muitas tribos diferentes que migraram através das estepes russas para a Europa Oriental e mais tarde receberam o nome de eslavos.

        A Enciclopédia Britânica afirma que os sármatas eram um povo de raízes iranianas. Portanto, estes Rhoxolani de origem sármata provavelmente vieram da terra de Rasu, um território específico nomeado pelos assírios que fica no atual Irã, a mesma área de onde se explica que os sármatas vieram.

       Curiosamente, Estrabão registrou o povo Rhoxolani vivendo entre os rios Dnieper e Don, mais ao norte do que qualquer pessoa conhecida pelos gregos no primeiro século. Esta terra, que incorpora a Bielorrússia, foi o território que formou o primeiro estado russo descrito anteriormente.

       O nome "Rus'", que deu origem a "Rússia" pode vir também da palavra finlandesa "Ruotsi" e da estoniana "Rootsi", que por sua vez derivam de "Ródr", remadores. No finlandês atual, "Ruotsi" significa Suécia. O significado de Rus é tema de debates, mas a versão mais aceite é de que era uma forma comum de os Vikings se autodenominarem quando viviam fora de sua terra natal, em companhia de outros povos. Muitas especulações, mas os fatos apontam para a mistura, migração e comércio entre todos estes descendentes Magog, Mosoc e Tubal.



Referências :


Bíblia Sagrada 

Enciclopédia Britânica

Antiguidades Judaicas de Flávio Josefo