sábado, 27 de janeiro de 2024

Jafet: o pai da Eurásia

 Cristiano De Mari


       O Gênesis sempre será um recurso genealógico para o estudo das possíveis migrações humanas,  bem como do desenvolvimento das mesmas. Aliado a isso estão também o estudo genético do DNA tanto mitocondrial ( da mãe: cromossomo X) como paternal (cromossomo Y) e a arqueologia.

      Dada a dificuldade de discernir as identidades raciais dos povos relacionados com as primeiras culturas do Oriente Próximo , podemos tentar obter uma visão mais completa das suas filiações recorrendo a textos sagrados e mitológicos. Sobre isso,  a “Tabela das Nações” de Gênesis 10-11 é de considerável valor. Gênesis 10:1 apresenta Sem, Cam e Jafet como os três filhos de Noé. Gênesis 11:2 também menciona que Sem, Cam e Jafet originalmente viveram próximos e viajaram até Sennar, ou Suméria , Shengir: ( em Sumério , Kiengir). Isso aconteceu num passado bem remoto, estamos falando de milênios.

        Os povos semitas, camíticos e jaféticos mencionados na Bíblia estão, portanto, todos intimamente relacionados como ancestrais de todas as raças humanas oriundas de Noé. O ramo mais jovem da raça de Noé, os camitas, são listados na Tabela Bíblica das Nações como os verdadeiros fundadores das culturas Suméria (Nimrod) e Egípcia, uma vez que Cush ( pai da Suméria e dos africanos abaixo do Egito) e Mizraim (Egito) são filhos de Cam. Já os descendentes de Sem, considerado como o filho mais velho de Noé, foram os que geraram grandes impérios como o Assírio, Acádio, Caldeus, etc....e também o povo Hebreu.



        Falando agora sobre o patriarca que é protagonista do texto, historicamente, o patriarca Jafet foi o progenitor do ramo caucasóide , ariano ou indo-europeu da família humana, a chamada "raça branca". 

        Como teve migrações de Proto-Indo-Europeus para a Ásia, contribuindo geneticamente na formação de povos Siberianos , Túrquicos e Mongóis , pode-se dizer que Jafet é o pai da Eurásia, nomenclatura dada à proporção contínua de terras do continente europeu até todo norte asiático.

       Os nomes de seus filhos e netos são encontrados em textos históricos antigos como referentes a povos e tribos que foram habitar principalmente ao Norte ( Britânia, Germânia, Islândia, Rússia, Sibéria e Regiões Nórdicas) e ao Oeste do Crescente Fértil. Disseminaram-se também do Cáucaso até a Ásia Central, alguns descendo até a Índia e para o Oeste através da Ásia Menor até as ilhas e terras litorâneas da Europa (Creta, Grécia, Itália, península Balcânica, sul da França) chegando a Península Ibérica. Tradições árabes afirmam que um dos filhos de Jafet foi também o progenitor dos povos chineses. De fato, segundo alguns estudos , o neto de Jafet , Togarmah, filho de Gomer, teria originado os povos asiáticos e mongois.

        Resumindo: de Gomer vieram os germânicos, escandinavos, celtas, cimérios, um ramo participa na origem dos mongois, tártaros e turcos juntamente com misturas raciais vindas de Cam , particularmente de

 Cannã;

De Magog, os Citas, Godos, povos eslavos;

De Madai, os Medos, Persas , Partos, Curdos;

De Javan, os Gregos, Aqueus, Jônios, Eólios e Dórios;

De Tubal, os Itálicos, Ibéricos, Pelasgos, Cretenses, Tobelitas, Georgianos;

De Mosoc, os Frígios, Moscovitas , Russos ;

De Tiras, os Troianos, Trácios, Etruscos, Dácios.

      Claro que esta é uma projeção de descendência dos primórdios. Logicamente, pouco tempo depois houveram também misturas raciais entre os clãs originais de Jafet,  bem como misturas raciais com clãs tribais de outras origens, como camitas e indo-europeus que originaram os asiáticos e ameríndios. Entre camitas e semitas temos o exemplo de Ismael filho de Abraão ( semita e de Ágar a egípcia) ele é resultado de uma mistura étnica que originou o povo árabe, os Persas podem ter se originado da mistura de semitas do reino de Elam com povos Jafetitas do Planalto do Irã, só para exemplificar também, dentre outras situações.

       Geneticamente falando, dentre os haplogrupos genéticos do cromossomo Y que atestam a paternidade relacionada aos indo-europeus estão o R1b , R1a, o G, G-2a, o I, J o N. Variantes do E são encontrados na Europa em menores proporções, principalmente o E-v13 ( este haplogrupo em si não é europeu e sua presença pode ser devido antigas migrações diretas do Oriente Próximo ou mesmo do Norte africano a muitos milênios).

      No que diz respeito ao DNA mitocondrial passado somente de mãe para filhos, os europeus  são caracterizados pela predominância dos haplogrupos H, U e T. 



         Uma teoria de estudo atribuída ao pesquisador Gordon Childe sobre o aspecto "mediterrâneo" das primeiras populações da grande região entre a Ásia Ocidental e a Europa Central parece ser confirmada arqueologicamente pelo fato de que os túmulos da cultura ariana ( indo-europeia) de Bishkent ( 1.700-1.500 a.C) relacionados ao Complexo Arqueológico Bactro-Margiana do norte (BMAC) contém  esqueletos principalmente mediterrâneos, que são de origem caucasóide, indo-europeia.

      Os europeus da antiguidade sabiam muito bem que eram descendentes do filho de Noé, Jafet, e registraram essa linhagem em documentos que ainda hoje estão disponíveis.

       Essa é a premissa contida no livro : After the Flood: The Early Post-Floud History of Europe Traced Back to Noah, de Bill Cooper (Chichester, Inglaterra: New Wine Press, 1995). Cooper usa fontes antigas para reconstruir as linhagens reais dos primeiros britânicos, anglo-saxões, dinamarqueses, noruegueses e celtas irlandeses até sua descendência de Jafet.

      Entre as fontes de Cooper estão documentos que foram muito criticados por alguns estudiosos pois contêm alguns relatos que parecem ser baseados em mitos e lendas, que têm a sua origem em fontes galesas estigmatizadas, mas acima de tudo porque levam a sério o relato da Bíblia.Para os cientistas, principalmente os ateus, qualquer coisa que se conecte à cronologia bíblica e aos relatos históricos é considerada uma “ficção piedosa” inventada por monges cristãos. Embora algumas das reclamações contra essas fontes possam ter alguma substância, Cooper apresenta alguns bons argumentos em defesa dessas fontes, que incluem Brut Tysillo, Historia Brittonum (História dos Britânicos) de Nennuis, e Historia Regum Britanniae (Histórias de os reis da Grã-Bretanha).

       Um passo muito útil que Cooper faz (na página 40) está em correlacionar os vários ramos indo-europeus que reconhecem um patriarca antigo Jafet (geralmente deificado) como um ancestral antigo.


       Importante:


      *** Isso inclui Iápetos dos gregos, Pra-Japati (Pai Japheth) dos Vedas sânscritos, Júpiter (ou Iu-Pater, Pai Jove) dos romanos e Sceaf (pronuncia-se "Shaif" ) dos saxões.

      Cooper faz algumas análises interessantes para mostrar que os documentos relevantes deveriam receber mais crédito do que os estudos convencionais. Um resultado importante do seu trabalho é demonstrar que os antigos celtas eram alfabetizados e tinham uma civilização altamente sofisticada muito antes da conquista romana da Grã-Bretanha. Os estudiosos bibliofóbicos não gostam de admitir isso, porque uma cultura avançada entre os celtas daria apoio aos documentos originais recolhidos e transcritos por Nennius, Geoffrey e Tysillo.



Influência da Maldição de Babel


        De acordo com Gênesis 11: 1-9, os semitas, camitas e jafetitas que viviam todos próximos em Sennar, foram divididos em diferentes ramos falando línguas diferentes após a maldição de Babel. Portanto, é provável que a língua da antiga cultura mesopotâmica de Ubaid ( 6.500-3.800 a.C) de Elam e Eridu, bem como da primeira fase de Uruk (4.000-3.200 a.C) e do proto-acadiano semita Kish ( 3.100 a.C), era uma espécie de linguagem primitiva comum talvez falada pela família de Noé e suas linhagens primárias posteriores, ou ainda o antigo Nostrático, que é um termo hipotético para a linguagem primitiva antes da dispersão em Babel. Uns consideram também uma forma de protodravidiano / proto-hurrita (aglutinativo). Posteriormente, as línguas do período acadiano (2.300 a.C) estavam divididas em acadiano (flexionado), (aglutinativo) Sumério, (aglutinativo) elamita e (flexionado) ariano.

         Outra importante conexão que revela a autenticidade das origens das raças ditas "brancas" é atribuída aos estudos sobre os antigos Proto-Indo-Europeus, que são nada mais nada menos que os grupos dos Jafetitas nomeados assim ainda no medievo. Eles são portanto, segundo a teoria linguística, descendentes de Jafet.

       Os proto-indo-europeus foram um grupo etnolinguístico pré-histórico da Eurásia que falava uma proto linguagem ancestral, o Proto-Indo-Europeu (PIE), o ancestral comum reconstruído da família de línguas indo-europeias.

      O conhecimento deles vem principalmente dessa reconstrução linguística, juntamente com evidências materiais da arqueologia e da arqueogenética. Existem muitas similaridades entre as línguas europeias modernas e que se recuarmos ainda mais no tempo, muito termos comuns são parecidos e também parecidos ao serem pronunciados. Por exemplo, as línguas europeias Itálicas ( Romances) e dialetos: italiano, francês, espanhol, português e romeno desenvolveram-se do latim vulgar dos tempos do Império Romano. As línguas europeias germânicas e dialetos : o inglês, alemão, sueco, norueguês, dinamarquês, holandês vieram de uma linguagem Germânica arcaica; o irlandês, gaélico, são de origem céltica; o polonês, sérvio, croata, ucraniano , eslovaco, russo , dialetos e etc... são do ramo das línguas Eslavas, assim também as línguas da Geórgia e Armênia, dialetos do Irã e centro asiático, o Grego antigo e moderno, a lingua indiana e sua antiga o Sânscrito, todas tem sua origem numa linguagem agora morta do antigo Proto-Indo-Europeu.Pela linguagem comparada de todas estas, chegamos a uma linguagem única.

      Os proto-indo-europeus provavelmente viveram durante o período Neolítico Superior (6.400–3.500 a.C). Os principais estudiosos os colocam na estepe Pôntico-Cáspio em toda a Eurásia (esta estepe se estende do nordeste da Bulgária e sudeste da Romênia, através da Moldávia, e sul e leste da Ucrânia, através do norte do Cáucaso do sul da Rússia, e na região do Baixo Volga, no oeste do Cazaquistão, adjacente à estepe do Cazaquistão a leste, ambas fazendo parte da maior estepe da Eurásia). Alguns arqueólogos estenderiam a antiguidade de tempo dos falantes do Proto-Indo-Europeu até o período Neolítico Médio (5.500 a 4.500 a.C) ou mesmo o período Neolítico Inferior (7.500 a 5.500 a.C) e sugeririam hipóteses de origem alternativas com outras datações.

       No século XVIII, a visão predominante entre os estudiosos europeus era que a espécie humana teve a sua origem na região das montanhas do Cáucaso. Esta visão baseava-se no fato de o Cáucaso ser o local do suposto ponto em que atracou a Arca de Noé  de quem a Bíblia afirma que a humanidade descende – e o local do sofrimento de Prometeu, que no mito de Hesíodo tinha criado a humanidade a partir do barro.

        No século VII, o arcebispo Isidoro de Sevilha escreveu a sua notável obra histórico-enciclopédica, na qual traça as origens da maioria das nações da Europa até Jafet .Estudiosos em quase todas as nações europeias continuaram a repetir e desenvolver a afirmação de Isidoro de Sevilha sobre a descendência de Noé através de Jafet até o século XIX.

        A Bíblia Sagrada e antigos historiadores como o judeu romano Flávio Josefo, São Jerônimo , Santo Isidoro de Sevilha e muitos outros da nossa Era moderna consideravam os filhos de Jafet como antepassados de Gregos, das 4 tribos formadoras , os Eólios ( Halisões) , Dórios ( Rodanim) , Aqueus ( Chitim, Chetimus), Javan ( filho de Jafet : Iáones, Jawanu, Jônios). 

       Os itálicos, ibéricos, ilíricos viriam de Tubal, bárbaros germânicos de Gomer, Celtas e Gálatas de Rifat , filho de Gomer , Troianos, Trácios de Tiras, eslavos, russos e cimérios de Magog e Mosoc, iranianos, Áryas e Sármatas de Madai, isso seria de uma forma resumida e distinta, no transcorrer do tempo as miscigenações acentuaram-se, devido conquista de terras , migrações e aumento das populações.

    As sociedades Proto-indo-europeias dependiam no início da pecuária. O boi era o animal mais importante para eles, e a riqueza de um homem poderia ser medida pelo número de vacas que ele possuísse. Ovelhas e cabras também eram criadas, por indivíduos com menor riqueza. A agricultura e a pesca também eram muito praticados.

      A domesticação do cavalo (Tarpan) talvez tenha sido uma inovação desse povo, considerada um fator que contribuiu para sua rápida expansão.

Arqueologia e suas teses

       No século XX, Marija Gimbutas criou a hipótese Kurgan, de "Kurgans" (montes funerários) das estepes eurasianas. A hipótese sugere que os indo-europeus eram uma tribo nômade da estepe pôntica (atualmente o leste da Ucrânia e o sul da Rússia) que se expandiu em várias ondas durante o 3º milênio a.C. Sua expansão coincidiu com a domesticação do cavalo.  

     Deixando sinais arqueológicos de sua presença, dominaram os antigos agricultores neolíticos europeus da civilização da Europa Antiga. A pesquisadora colocou ênfase na natureza patriarcal da cultura invasora, contrastando-a com a suposta cultura matrilinear, dos invadidos. Estes agricultores neolíticos adoravam deusas , chamadas de mãe Terra, e suas esculturas representavam corpos avolumados.

        Uma forma modificada da teoria de Gimbutas, proposta por James Patrick Mallory, data as migrações um pouco antes de 3500 a.C e insiste menos na natureza violenta ou quase militar da invasão, sendo este o ponto de vista mais apoiado do Urheimat ( local de origem dos Proto-Indo-Europeus).

        A hipótese anatólica ( da região da Anatólia , hoje  Turquia) de Colin Renfrew, sugere que as línguas indo-europeias se disseminaram pacificamente da Ásia Menor para a Europa a partir de 7000 a.C com o avanço da agricultura. A cultura dos indo-europeus vista pela reconstrução linguística contradiz esta teoria, pois as culturas neolíticas não tinham cavalos, nem a roda e nem os metais, termos linguísticos que aparecem somente no proto indo-europeu.   

      Renfrew rejeita esse argumento  dizendo que a antiga Anatólia antes era habitada por povos não indo-europeus, especialmente Hititas e outros; apesar de isso não eliminar a possibilidade de que os primeiros falantes de indo-europeu também pudessem ter vivido lá.

       Os cientistas e antropólogos italianos Piazza & Cavalli-Sforza (2006) afirmam que:


         "Se as expansões começaram há 9.500 anos a partir da Anatólia e há 6.000 anos a partir da região da cultura Yamna, então um período de 3.500 anos decorreu durante sua migração para a região Volga-Don a partir da Anatólia, provavelmente através dos Bálcãs ( onde hoje existem Sérvia, Croácia, Bósnia, etc...).

       Lá, uma nova cultura principalmente pastoril se desenvolveu sob o estímulo de um meio ambiente desfavorável à agricultura padrão, mas oferecendo novas possibilidades atrativas. Então, nossa hipótese é que as línguas indo-europeias derivam de uma expansão secundária a partir da região da cultura Yamna depois que agricultores neolíticos, possivelmente vindos da Anatólia e lá estabelecidos, desenvolveram o nomadismo pastoril." 

      Resumindo, temos migrações de populações de agricultores primitivos neolíticos ( estes não utilizaram cavalos) que partiram da Anatólia ( lembrem da proximidade dessa região com o Ararat, local onde a arca de Noé repousou pós-dilúvio) para colonizar o Mediterrâneo e sul da Europa e eles podem ser geneticamente associados aos primeiros descendentes de Jafet, talvez até já um pouco mesclados com outras tribos de clãs, mas que depois foram absorvidos e dominados pelas culturas invasoras indo-europeias de  Yamna , Kurgans, e de Don-Volga, procedentes das estepes pônticas, eurasianas as e planícies da Ucrânia.

      Percebam que existem muitos quadros de estudos arqueológicos com datações ora distintas ora aproximadas.Acredito que todos tem seu valor pois foram diversas as migrações humanasdos povos indo-europeus. E fica evidente uma expansão inicial pela Anatólia, talvez os primeiros a imigrarem após os eventos de Babel, e milênios mais tarde outras ondas sucessivas foram tomando espaço geográfica e culturalmente falando pelas terras da Eurásia ( Europa e Ásia).

       





Referências:


https://curiosidadesmisteriosantigos.blogspot.com/2023/06/sem-cam-e-jafet-e-propagacao-da-raca.html?m=1

https://heiup.uni-heidelberg.de/journals/index.php/transcultural/article/download/17446/11347?inline=1

https://aroyking.wordpress.com/tag/japheth/

https://www.ancient-origins.net/human-origins-religions/dynastic-race-and-biblical-japheth-part-ii-ethnology-and-influence-008967

https://armstronginstitute.org/150-biblical-names-confirmed-through-archaeology