terça-feira, 2 de abril de 2013

A Mentalidade Cristã na veracidade do texto biblico !

Autor: Cristiano De Mari

Quando analisamos em algum texto bíblico a relação entre DEUS e os homens, na tradição judaica em que foram escritos, percebemos que DEUS recebe denominações diferentes, qualificativas.Conforme os acontecimentos se desenrolavam no tempo, mediante o momento histórico, o modo de vida , as causas inesperadas de um evento, essas atribuições iam aparecendo entre as tribos como um meio de interpretação para diversos fenômenos que presenciavam, ou também para designar algo transcendente com o qual toda uma tradição foi formada. Lá DEUS é denominado com os atributos de pai, criador, DEUS dos exércitos, rei , etc...Muitas vezes se apresenta como um DEUS ciumento, vingativo, que castiga , que abençoa, que promete o melhor, segundo o comportamento do ser humano, se é bom ou mau; se é obediente ou transgressor. Na mentalidade semítica tudo o que acontecia de errado, de negativo era entendido como um alerta de DEUS para a conversão do povo.Do mesmo modo as bênçãos eram entendidas como resultado de boas ações praticadas mediante a observância da lei. Para o hebreu ou judeu, dentro de seu contexto histórico-cultural a que estavam inseridos, o importante para eles eram as manifestações de DEUS por meio de SUAS obras e intervenções; a praticidade no dia-a-dia e as relações entre as comunidades.Não possuíam um espírito questionador.Não se perguntavam sobre o porquê das coisas existirem, dos processos com os quais subsistem e das origens do mundo criado sem atribuir a uma força maior.Eram práticos, não se preocupando em adornar seus utensílios, mas davam importância à sua utilidade.A sua escrita era limitada tanto em caracteres como em elementos de sintaxe e apresentava poucos termos de abstração.Procuravam formas simples de comunicação que evitassem principalmente nos textos sagrados certas ambigüidades e más interpretações, que poderiam colocar em discussão a validade dos mesmos.Eram pessoas de fé extrema. Por isso no mundo físico qualquer manifestação anormal da natureza era compreendida como manifestação de DEUS.E de certa forma era ; como veremos mais adiante.[1]Sendo que viviam em uma época desprovida do conhecimento científico, se compararmos com o que temos na atualidade,nas suas comunidades ou tribos predominava o que chamamos de conhecimento baseado pelo senso comum, ou seja toda uma tradição, de olhar o mundo característica de sua cultura, das experiências vivenciadas entre si, acumuladas durante gerações.Contrastando com a nossa cultura cristã atual, podemos distinguir as características que o cristianismo herdou da mentalidade judaica e o que incrementou da mentalidade helenística. Ainda que muitos autores insistem em proclamar que a origem da filosofia não se deu na Grécia, mas no Oriente, principalmente entre os hindus e chineses; foi sem dúvida com os gregos que ela alcançou o seu caráter ou estágio mais puro.Com os gregos a filosofia buscou interpretar as causas e as relações do mundo físico e visível mediante um olhar mais crítico e científico, abandonando totalmente qualquer relação mitológica. Enquanto o judeu escutava, absorvia o conhecimento de toda uma tradição sem questionar.O grego por sua vez, observava de modo contemplativo a natureza à sua volta e se questiona atraído pela noção do belo, tentando procurar a origem de tudo o que vê e sente.Tudo isso na mentalidade grega-cristã da Igreja primitiva representava um caráter de admiração,de adoração, de respeito ao DEUS que cria e permite pela sua infinita sabedoria, ainda que de forma limitada ao homem, reconhecer o seu criador por meio da beleza e ordem das coisas criadas. Desse modo passa-se a investigar a natureza e a desvendar as leis que regem os diferentes estados de matéria no universo. Por causa disso é que muitas vezes na época em que foram escritos os textos bíblicos e até anteriormente na fase da transmissão oral, os judeus não conseguiam fazer qualquer relação entre os acontecimentos imprevistos às manifestações da natureza sem mencionar o “dedo divino”.Existiam coisas que aconteciam por simples manifestações de acordo com a própria natureza.[1]Sabemos e aprendemos na cultura cristã que DEUS se manifesta utilizando-se também das leis naturais que criou, com as quais incumbiu que “zelassem” pela harmonia de todos os seres e elementos do universo.Portanto há uma ordem, há um propósito, não estão aí por acaso, mas para uma boa causa. Não devemos esquecer também que DEUS interage na história segundo o seu propósito. ELE pode sim ignorar as leis naturais e proporcionar fenômenos sobrenaturais, os quais conhecemos por milagres (aparições marianas,milagres eucarísticos, corpos incorruptíveis).Essa manifestação do poder divino acontece para que os homens dêem testemunho de sua fé, aumentando-a; convidando para que possam transmitir às pessoas que o procuram; ainda que ; de forma errônea ou superficial, o seu verdadeiro propósito, o seu verdadeiro plano para com a humanidade.Podemos dizer que DEUS se manifesta tanto pelas coisas prodigiosas (milagres) como pelas coisas aparentemente naturais, pequenas e simples. Não é cabível portanto interpretar que toda manifestação de DEUS no Antigo Testamento tenha sido de caráter totalmente natural.É óbvio que certos relatos catastróficos foram contados nos textos bíblicos querendo mostrar para as gerações presentes da época a sua mensagem central , quer seja ela moral ou religiosa, fruto de um contexto cultural ambientado em épocas diferentes, com um outro olhar sobre o mundo.Também divergências textuais ocorreram no momento em que a tradição oral, transmitida de geração em geração, foi escrita com o intuito de salvar os costumes nos momentos da história em que o povo esteve disperso, e para afirmar a identidade judaica.Existem também estas relações. Porém no que concerne aos mitos relatados no A.T. ,devemos ter cautela, pois tratam de acontecimentos de tempos imemoriais, distantes, que não são falsos, mas que por isso recebem a distinção de mito,pois acredita-se que receberam influências dos mitos da criação mesopotâmicos e certamente por ser quase impossível atestar sua veracidade por meio de métodos científicos, não impedindo que se suspeite a respeito.Se não podemos prová-los, também não podemos refutá-los, pois no relato bíblico estão ali escritos de forma simples para que o povo antigo entendesse , poupando detalhes que com certeza existiram, o que demonstra que; por exemplo; nos relatos do gênesis a mensagem é muito mais instrutiva do que científica e histórica. É nessa situação que recorremos a fé, ainda mais que sabemos que pelo mundo todo, culturas de diversas etnias e de épocas diferentes, preservaram ou preservam relatos sobre a criação do mundo, do homem, do dilúvio, mesmo que de forma distorcida devido ao tempo e pelas tradições culturais.Não são raros os casos em que culturas que estiveram por períodos longos de tempo separadas em continentes diferentes (europeus,nativos americanos, polinésios) apresentassem relatos parecidos. De qualquer maneira a cultura cristã está imbuída de elementos da mentalidade judaica relatada no Antigo Testamento e da grega comentada no Novo Testamento.Da judaica herdamos a fé em toda a sua essência, que dá um significado para as coisas que a ciência não consegue explicar.Da grega herdamos a razão para compreender os feitos do criador e assim passamos a adorá-LO ainda mais.Eis a junção, o equilíbrio entre a ciência e fé que nos dão uma dimensão maior do entendimento do universo.O trabalho dos monges medievais em copiar as escrituras sagradas e as obras dos filósofos gregos foi de extrema importância para a preservação dessa mentalidade.Aliada também à contribuição de grandes homens da escolástica que inspirados colocaram a sua sabedoria para relacionar as duas mentalidades e proporcionar um resultado harmonioso.A veracidade dos textos bíblicos é atestada pela sua canonicidade que através dos tempos o Espírito de DEUS inspirou homens sábios a selecionar e interpretar os escritos de forma séria, pois está dito no Eclesiástico: "O sábio investigará a sabedoria de todos os antigos, e fará o seu estudo nos profetas. Conservará no seu coração as instruções dos homens célebres, e penetrará também nas subtilezas das parábolas. Indagará o sentido oculto dos provérbios, e ocupar-se-á dos enigmas das parábolas” (Ecl. 39, 1-3).
 Considerações extras: 1- "Ainda que os semitas que habitavam na região sul da Mesopotâmia, estivessem sob influência da cultura da região que era repleta de mitos, nada impede que a sua tradição oral patriarcal tivesse sido formada por elementos próprios semíticos que procuraram ser fiéis a história original , da qual não se duvida.Aliás por que será que os hebreus foram escolhidos por DEUS para dar início a grande meta de revelar o Senhor a todos os povos? Será que não é porque tivessem alguma noção da natureza do DEUS único, diferente de todos os outros povos da Terra?"

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ARENS, Eduardo.A bíblia sem mitos.3ª edição.São Paulo: Paulus, 2007

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