terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Moisés: grande líder antes guerreiro

Cristiano De Mari


" O nome Moisés ou Mósis em egípcio, tradicionalmente  significa "retirado das águas" e ainda em uma outra tradição quer dizer  " o filho do Deus desconhecido", que neste caso seria Yaveh, desconhecido dos egípcios."


            De acordo com a Bíblia e a tradição judaico-cristã, Moisés realizou diversos prodígios após uma Epifania. Libertou o povo hebreu da escravidão no Antigo Egito, tendo instituído a Páscoa Judaica. Depois guiou seu povo através de um Êxodo pelo deserto durante quarenta anos, que se iniciou através da famosa passagem em que Moisés abre o Mar Vermelho, para possibilitar a travessia segura dos hebreus. Ainda segundo a Bíblia, recebeu no alto do Monte Sinai as Tábuas da Lei de Deus, contendo os Dez Mandamentos. 
         Isso é em resumo parte daquilo que aprendemos lendo a Bíblia ou até mesmo em catequese sobre o grande líder que guiou seu povo ao caminho da libertação, mas principalmente para a salvação lançando as bases de um cerne teológico que seria o princípio de uma grande religião. Os hebreus viveram por séculos no Egito na região de Gosén ao norte, região de terras férteis. Desde de que os filhos de Jacó (Israel) foram para o Egito por causa de uma grande seca na Terra Prometida e que nessa empreitada acabaram reencontrando José, o irmão que foi vendido, os hebreus permaneceram por  400 anos vivendo no Egito. Naquele tempo, +- 1730 a 1580 a.C. reinavam reis de origem semita no Egito , os chamados hicsos. Os hicsos eram mais tranquilos com os hebreus, mais diplomáticos,  mas na época de Moisés  
( 1212 a.C.) eles foram expulsos e os egípcios retomaram o poder.
             Todos sabem que Moisés era hebreu e foi salvo dos guardas do faraó quando pequeno e foi colocado por sua mãe em um cesto protegido e largado na correnteza do rio, sendo vigiado pela sua irmã Miriam. Foi retirado pela filha do faraó Seti I( para Josefo o nome dela seria Thermutis ou Bithiah). Assim como existem duas datas para situar o Êxodo no tempo 1400 a.C. e 1200 a.C., ocorrem também  muitas dúvidas acerca dos personagens faraônicos do tempo de Moisés. Podemos citar alguns nomes como Seti I ou Tutmés I como os faraós responsáveis por mandar executar as crianças inocentes , no caso incluindo o Moisés menino. Um outro nome para a princesa que resgatou Moisés seria Hatshepsut, filha de Tutmés I  e feita rainha mais tarde.E por fim os faraós do evento do Êxodo seriam Amem-Hotep II ou Ramsés II.
        No entanto poucos sabem que Moisés depois de crescido, antes de guiar o povo judeu serviu ao exército egípcio. Essa fase da vida de Moisés está descrita em conteúdo extra-bíblico no  livro de um judeu historiador antigo chamado Flávio Josefo, segue parte de um trecho:


      "A fronteira do Egito foi devastada pelos etíopes, que lhe estão próximos. Os egípcios marcharam com um exército contra eles, mas foram vencidos no combate e retiraram-se com desonra. Os etíopes, orgulhosos de tamanha vi­tória, julgaram que era covardia não aproveitar a boa sorte e começaram a se vangloriar de poderem conquistar todo o Egito. E lá entraram, por diversos lugares. A quantidade de despojos que arrebataram e o fato de não terem encontrado resistência alguma aumentaram-lhes a esperança de conseguir um feliz resultado na empresa. Assim, avançaram até Mênfis, chegando até o mar. Os egípcios, reconhecendo-se muito fracos para resistir a tão grande força, mandaram consultar um oráculo, e, por ordem secreta de Deus, a res­posta que receberam foi que somente um homem havia — um hebreu! — do qual podiam esperar auxílio.
        O rei não teve dificuldade em julgar, por essas palavras, que Moisés era o hebreu em questão, ao qual o céu destinava salvar o Egito, e pediu à filha para fazê-lo general de todo o exército. Ela consentiu e disse-lhe que julgava assim prestar ao rei um grande serviço. Contudo obrigou-o ao mesmo tempo a prome­ter, com juramento, que não lhe fariam mal algum. A princesa, não se conten­tando em testemunhar assim a sua extrema afeição por Moisés, não pôde tam­bém deixar de — com azedume — perguntar aos sacerdotes egípcios se eles não se envergonhavam de o haverem tratado como inimigo e de desejarem tirar a vida a um homem a quem eram agora obrigados a pedir auxílio.
          Pode-se imaginar com que prazer Moisés obedeceu às ordens do rei e da princesa, que lhe eram tão gloriosas. E os sacerdotes das duas nações tiveram com isso, por motivos diferentes, idêntica alegria. Os egípcios esperavam que, depois de vencerem os inimigos sob o comando de Moisés, encontrariam facil­mente ocasião para matá-lo, à traição. E os hebreus ansiavam, por esse mesmo motivo, sair do Egito e livrar-se da escravidão.
        Esse excelente general, posto à frente do exército, logo se fez admirar pela sua prudência. Em vez de marchar ao longo do Nilo, atravessou pelo meio das terras, a fim de surpreender os inimigos, que jamais pensariam que ele os fosse alcançar por um caminho tão perigoso, devido à quantidade de serpentes de várias espécies que ali vivem: muitas delas não existem em nenhum outro lugar e não somente são temíveis pelo seu veneno, mas são horríveis de se ver, porque, tendo asas, atacam os homens elevando-se no ar, para se atirar sobre eles. Moisés, para precaver-se contra elas, mandou colocar em gaiolas algumas aves chama­das íbis, que são domesticadas, amigas do homem, e inimigas mortais das ser­pentes, sendo que estas as temem não menos que aos cervos. Nada mais direi sobre essas aves, porque não são desconhecidas aos gregos.
         Quando Moisés chegou com o seu exército a essa tão perigosa região, soltou os pássaros e passou assim sem perigo. Então surpreendeu os etíopes, deu-lhes combate e os dispersou, fazendo-os perder a esperança de se tornarem senhores do Egito. Mas tão grande vitória não reteve os seus intentos: entrou no país deles, tomou várias cidades, saqueou-as e fez grande mortandade. Tão gloriosos resultados reanimaram de tal modo a coragem dos egípcios que eles seriam capazes de tudo empreender sob o comando de tão excelente general. Os etíopes, ao contrário, só tinham diante dos olhos a imagem da escravidão e da morte.
       O ilustre general impeliu-os até Sabá, capital da Etiópia, que Cambises, rei dos persas, chamou depois de Meroe, nome de sua irmã. Aí Moisés os sitiou, embora a cidade fosse tida como inexpugnável, porque, além de suas grandes fortificações, era rodeada por três rios: o Nilo, o Astape e o Astobora, cujo percurso é muito difícil. Ficava, assim, situada numa ilha e não era menos defendida pela água que a rodeava de todos os lados que pela força de suas muralhas e de suas defesas. Os diques que a preservavam das inundações dos rios serviam ainda de terceira defesa quando os inimigos passassem as outras. Moisés ficou aborrecido ao constatar que tantas difi­culdades juntas tornavam a conquista da cidade quase impossível, e o seu exército começava a enfadar-se, porque os etíopes não se atreviam mais a dar-lhes combate.
         Tarlis, filha do rei da Etiópia, tendo-o visto do alto das muralhas praticar, num assalto, atos de valor e de coragem extraordinários, ficou tão cheia de admiração pela sua bravura, a qual reerguera o ânimo dos egípcios e fizera tremer a Etiópia, antes vitoriosa, que sentiu o coração ferido de amor por ele. Com a paixão sem­pre aumentando, mandou oferecer-lhe a mão em casamento. Ele aceitou a hon­ra, com a condição de que ela lhe entregasse a cidade. A promessa foi confirma­da com um juramento e, depois que o tratado foi feito, em boa fé de parte a parte, ele deu graças a Deus por tantos favores e reconduziu os egípcios vitorio­sos de volta à sua pátria.
         Mas esses ingratos, em vez de manifestar reconhecimento pela salvação e pela honra que deviam a Moisés, aumentaram ainda mais o seu ódio contra ele e procuraram, mais do que nunca, eliminá-lo. Temiam que a glória que conquista­ra o enchesse de tal modo de orgulho que ele pensasse em se tornar senhor de todo o Egito. Aconselharam o rei a mandá-lo matar, o qual deu ouvidos a tais palavras, porque a grande fama de Moisés já lhe causava inveja, e o monarca começava a temer que fosse também sobrepujado por ele. Nisso era ajudado pelos sacerdotes, que, para incitá-lo ainda mais, recordavam o rei continuamen­te do perigo em que se encontrava.
       E assim, Faraó consentiu na morte de Moisés, e ela seria inevitável, se este não houvesse descoberto a intenção dos egípcios e se ausentado no momento opor­tuno. Moisés fugiu para o deserto e desse modo salvou-se, porque os inimigos não podiam imaginar que ele tomaria tal caminho. Como nada encontrasse para comer, viu-se atormentado por uma fome extrema, mas a suportou com paciên­cia e, depois de haver andado muito, chegou, pelo meio-dia, próximo da cidade de Midiã — nome que lhe deu um dos filhos de Abraão e Quetura —, à beira do mar Vermelho. Estando muito cansado, sentou-se à beira de um poço, para re­pousar, e esse fato deu-lhe ocasião de mostrar a sua coragem, abrindo o cami­nho para uma sorte melhor. " .................................................................



Fonte: História do Hebreus - Antiguidades Judaicas; Flávio Josefo, editora :CPDA

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